quinta-feira, 31 de março de 2011

O Despertador

É triste! Todos me dão na cabeça! Porquê? Porquê? Porquê? Porquê eu? Será justo levar todas as manhãs uma pantufada em cima de mim, só porque sou responsável? Pois é! Eu sou apenas um pobre e velho despertador de presente de aniversário, mas quantas pessoas não vagueiam pelo mundo que são, como eu, responsáveis, inteligentes, mas sobretudo, úteis? Será justo? Será justo que também eles sintam a dor do desprezo e da solidão como eu sinto todas as santas manhãs? Por vezes penso: Por que não me dão uma oportunidade de lhes demonstrar +ara que sirvo verdadeiramente, sem que me dêem, de seguida, um valente murro? Por que razão estes humanos também não dão uma oportunidade aos seus semelhantes empobrecidos, para que também eles possam demonstrar as suas habilidades, as suas utilidades, a sua inteligência e, principalmente, sobre todas as coisas: para que eles possam demonstrar o seu interior? Está nas tuas, nas tuas, nas tuas e nas mãos de todas as pessoas fazer com que a palavra “oportunidade” não seja um mito ou algo que está prestes a cair em desuso, mas sim uma máxima que todos querem atingir. Vai, tu consegues ser mais e melhor e eu, um dia, conseguirei mostrar para que sirvo verdadeiramente…! Talvez um dia!

Rui Filipe Nunes da Cunha, 10ºD

Tema:“ A escrita como…”

“O céu repleto de palavras”
Sento-me aqui e olho para o céu. As nuvens surgem lentamente, no horizonte, carregadas e ameaçadoras. E, tal como quando escrevo, sinto-as ao meu alcance, como uma ideia que me apanha de surpresa…e dou por mim a pensar que num dia mais limpo e solarengo de Verão, aquilo que “escrevinho” neste pedaço de papel seria algo vivo, bem mais divertido e apetecível.
Aqui fora, ao nível das nuvens, tudo aquilo que sinto envolve-me de uma forma acolhedora, e neste papel, tudo isso é gravado. Sei que aquela nuvem vai fugir para longe, mas também sei que outra pessoa a vai ver e vai poder ser, durante um bocadinho, um bocadinho do que eu sou.
E apreciar este momento, apreciar as diferentes formas que as nuvens assumem, dá-me esperança, pois se hoje este texto tempestuoso e repleto de emoção ocupa o meu pensamento, amanhã, quando olhar para o céu, algo mais leve e belo surgirá. E agora sei que quando o que sou se confunde com aquilo que sonho, este é o meu porto de abrigo: uma nuvem, uma ideia e, de repente…o céu repleto de palavras.

Ana Rita Dias Rocha, nº2 10ºG


“A palavra certa”

Para encontrar a verdadeira palavra ou, mais precisamente, a palavra certa para preencher a folha branca, senti o seu perfume trazido pelo vento. À medida que o seu perfume aumentava, a cor da folha mudava com todas aquelas palavras. Comparei-as às pétalas da flor , com cores vivas e deslumbrantes.
E a cada dia que passa, mais uma pétala cai e o texto forma-se. Um dia, está delicada e morre, e palavras perdem-se como as águas doces misturadas com as salgadas do mar.

Cátia Azevedo Correia, nº5 10ºG


“O germinar da crónica”

Para mim, a crónica pode ser como o germinar de uma flor.
No início, plantamos a semente na terra, ou seja, pensamos sobre o que queremos escrever. Depois, é necessário cuidar e esperar que a flor comece a germinar. É como começar a escrever as primeiras palavras, com muito cuidado e com lógica. Quando a flor finalmente está bem formada e bonita, significa que a nossa crónica está quase pronta. O final é quando a mostramos, entregamos o nosso coração e os nossos pensamentos…

Mariana Oliveira, nº14 10ºG


“Pincelando palavras”

Quando olho para uma folha em branco, sinto-me como um pintor a olhar para uma tela vazia…
A escrita torna-se cheia de mistérios e intrigas…Cada um pode imaginar, de formas diferentes, a história que está a ler. Ela é como o branco, pronto a misturar-se com outras cores e assumir milhares de matrizes variadas.
Princesas, sapos encantados, contos de fada: pintam-se de rosa na minha mente. Ou azul…É o céu limpo e puro, sem ódio, sem raiva, sem dor…
Ou talvez verde! Talvez uma tela de Van Gogh… Tão natural, tão “Natureza”!
Cada palavra é uma pincelada, duas formas diversas de expressar sentimentos, ambas profundas, ambas coloridas e ambas generosas. É um dar sem fim de cor, de palavras, de toques de vida…

Marina Patrícia Sousa Teixeira, nº16 10ºG


“ A escrita é arte”

Cada pincelada numa tela, cada espectro e raio de luz que se insere sobre a cor, tornando aqueles momentos retratados na pintura quase como vivos: é isso que eu sinto ao escrever, é uma arte. Cada risco no caderno transforma-se numa palavra, numa frase, num parágrafo. Claro que nem todos os textos de um escritor, nem todas as telas de um pintor são obras de arte. Após muita experimentação de cores diferentes, de perspectivas, de erros e pensamentos, acabará por resultar numa pintura, que para os olhos daquele que tentará compreender as emoções do autor, será uma verdadeira obra de arte. Tanto pintar como escrever é dar asa à imaginação, e dar vida, uma forma definida, àquilo que pertence ao imaginário.

Pedro Pimenta, nº18 10ºG


“Palavras amigas”

Escrever é como uma boa amizade. Demora a surgir alguma ideia, mas, quando vem, temos que aproveitar e tirar proveito. Depois, cada amigo que surge é como um sujeito, um predicado, um complemento. Cada um vai formando uma frase; depois duas, três e, por aí adiante até formar um texto. Texto em que cada frase é necessária, que cada sujeito desempenha uma função diferente de um predicado ou de um complemento. Tal como os amigos, cada um é único, mas necessário para nos apoiar em momentos diferentes.
Mas, ao longo de uma amizade, surgem problemas. E, como quando escrevemos, temos de superá-los e seguir em frente (se realmente queremos que o texto resulte). Normalmente, quando menos esperamos, fica tudo bem e voltamos ao normal: a escrita volta a surgir e a amizade volta a florescer.

Rúben Magina Pereira Vieira Ribeiro, nº22 10ºG


“A Fonte das palavras”

Pacientemente, espero pela água pura que emanam as fontes da inspiração, espero pelas memórias e pelas palavras que fluem e escorregam lentamente pela tinta da caneta…Tocando a medo o papel…Enchendo cada linha com um livro de romance, cheio de histórias, paixão, cheio de tudo. Finalmente, as ideias começam a surgir, e um temporal de frases idílicas toma conta da minha mente e invade, curiosamente, o meu pensamento: as palavras correm o papel, de um lado para o outro, molhadas, e repousam para um eterno e ilustre descanso.
Com um brilho cristalino, a ponta da caneta espelha os meus olhos, ao ver no papel o que tinha no pensamento. Infelizmente, acabou! Aquela forte corrente que me arrastava…Essas águas chegaram, por fim, ao mar. E, agora, dou à costa. Sonho em poder voltar àquela fonte sincera. Sonho em libertar para o descanso mais palavras e em sentir a caneta deslizar no papel.
Agora tenho que me recompor: secar as roupas e os cabelos, aconchegar as frases e apanhar algumas pedrinhas do meio do texto.
Está tudo pronto para dar a conhecer a experiência fantástica que é escrever com o coração. Ter o privilégio de ser conhecedora de uma fonte tão limpa e tão pura, que emana ideias, palavras e pensamentos, com os quais consigo confluir em direcção a um espantoso oceano – a escrita.

Susana Monteiro, nº25 10ºG

quinta-feira, 17 de março de 2011

Página de Diário

16.02.11
Querido Diário,
Continua a chover…
Cai chuva do céu cinzento
Que não tem razão de ser.
Até o meu pensamento
Tem chuva nele a escorrer.

Fernando Pessoa

Este tempo deixa-me muito nostálgica, pensativa... E, por isso, enquanto olho a chuva a cair e ouço o vento, resolvi partilhar as minhas reflexões contigo.
Sabes, dei comigo a pensar que uma das coisas mais curiosas no nosso planeta é a eterna busca do ser humano pela liberdade. Hasteiam-se bandeiras em seu nome, luta-se, morre-se e mata-se por esse direito dito "inalienável" do ser. Mas o que será a liberdade para cada um de nós? Será que todos queremos dizer a mesma coisa quando nos referimos a ela?
Será que os povos Árabes, que agora se revoltam em imensos países, lutam pela mesma liberdade que nós conhecemos? Eu penso que a liberdade em que eles acreditam é um pouco diferente da nossa, devido ao fundamentalismo religioso. Mas, de qualquer forma, acho muito bem que se altere o poder instituído há imensos anos nesses países.
Como vimos na aula de Filosofia, a liberdade qualifica a independência do ser humano, já que lhe permite agir autonomamente, tendo sempre subjacente a responsabilidade.
A minha geração já nasceu num país livre, usufruímos de um direito que outros conquistaram com muito esforço.
Bom, comparando com o passado, a nossa vida é bem diferente, temos acesso a todo o tipo de informação e à liberdade de expressão. Hoje em dia, não há assuntos proibidos! Falar de sexualidade, por exemplo, já não é tabu, os adolescentes de hoje são a geração mais bem informada de todos os tempos! Temos educação sexual na escola, podemos ler artigos a esse respeito nas revistas, a televisão também ajuda, e, se restar alguma dúvida, há sites na internet ou familiares/professores que respondem a qualquer questão sobre o tema.

Hoje, fui ao teatro com a minha turma no âmbito da disciplina de Educação Sexual. E, na verdade, quando me disseram que ia ver a peça ”Deixemos o sexo em paz”, pensei para comigo: pronto, lá vou eu ouvir algo monótono e aquilo que já sei outra vez repetido…
Mas, vê lá tu, aconteceu exactamente o contrário! Afinal era um monólogo, interpretado por uma actriz fantástica, com uma expressividade incrível, uma daquelas pessoas que consegue mudar de tom de voz muito rapidamente para encarnar diferentes personagens. Adorei!
A peça transportava-nos para um tempo onde o sexo era visto como um tabu, pois pouco se conversava sobre o tema, e os jovens associavam-no a uma ideia parecida com a de um planeta distante, intocável e misterioso. Foi bem conseguida a ponte que é feita, entre o modo como a sexualidade é vista nos dias de hoje, e a forma como era encarada no passado. Responde a perguntas básicas e aborda problemáticas que são actuais, como a gravidez indesejada e as doenças sexualmente transmissíveis.
Em jeito de conclusão, posso dizer que foi uma surpresa muito agradável ver este tema tratado numa peça de teatro. Como reflexão, registo que a informação nos confere a capacidade de decidir, de fazer escolhas e poder agir com liberdade.

Bem, por hoje é tudo!
Beijinhos e até amanhã,
Inês.

Inês, nº8,10ºC

quinta-feira, 10 de março de 2011

O Tempo e o Sexo

Ontem, fui ao teatro ver uma peça intitulada “Deixemos o Sexo em Paz”, interpretada por uma única actriz, que aborda a questão do sexo de forma descontraída, descomplexada e divertida. Como não podia deixar de ser, este controverso tema fez-me reflectir.
No tempo dos meus avós, era impensável falar-se sobre sexo! A moral e os bons costumes levavam a que nem na privacidade do lar se abordasse este tema. Na geração dos meus pais, já existia mais comunicação: em muitas famílias existia abertura suficiente para se esclarecerem alguns aspectos relacionados com o assunto. No entanto, nenhum encenador ousava apresentar uma peça que abordasse tamanho tabu!
Com o passar dos tempos, as coisas foram mudando. Eu sou fruto de uma época em que se visualizam filmes na televisão com cenas de nudez aceites pela generalidade das pessoas. Porém, ainda hoje existe um certo preconceito, visível nos risos e olhares desconfortáveis quando se aborda o tema.
Há séculos que as pessoas reprimem a sua vida sexual. Aprenderam, erradamente, que sexo é pecado. Tabus existem e são muitos, cabe a todos nós mostrar que um bom diálogo faz a diferença, porque tudo o que parece proibido desperta curiosidade.
De tudo isto tratou Maria Paulos com um inacreditável e divertidíssimo monólogo. A actriz conseguiu despertar a nossa desinibida atenção para temas pertinentes, começando pela primeira experiência sexual da personagem, passando por uma “lição de orgasmo” e pela impotência sexual. Talvez através desta original forma, os adolescentes consigam abrir os olhos para o mundo que os rodeia, e percebam que o sexo é uma coisa natural, presente na vida de todos, e não um “bicho de sete cabeças”!

Márcia Oliveira,nº22,10ºB

Sem Papas na Língua

“Deixemos o Sexo em Paz” é uma peça de teatro do dramaturgo italiana Dario Fo e de Franca Rames em que se trata de um tema que, nos dias de hoje, ainda é visto por muitos com um “bicho de sete cabeças”: o sexo. No nosso país, quem se encarrega de dar vida a este divertido monólogo é a actriz Maria Paulos.
No decorrer do espectáculo, vão sendo abordados de uma forma muito natural diversos assuntos bastante pertinentes em relação à sexualidade, nomeadamente no que respeita à dificuldade que os pais demonstram em falar com os seus filhos; às dúvidas que assolam os adolescentes e às várias inseguranças e problemas que os casais, por vezes, enfrentam ao longo da sua vida e às escolhas que têm que tomar.
É de louvar o modo como o discurso é conduzido despreocupadamente, mas sem nunca ser leviano, e como o recurso a pequenas histórias permite ao espectador identificar-se com o que é relatado, aproximando assim a realidade e a representação. Importante também é, sem dúvida, o facto de se utilizar um tom que facilmente provoca o riso para criticar a forma como o assunto é tão solenemente visto numa sociedade que se diz tão aberta e racional, como a nossa. Esta peça chama ainda a atenção para o facto de ser essencial dar informação às camadas mais jovens da população, para que possam viver uma sexualidade plena e responsável.
Dirigido a adolescentes, pais ou avós, este é um espectáculo interessante que certamente diminuirá as barreiras existentes, permitindo que toda a família possa conversar e reflectir mais abertamente sobre o complexo tema do sexo.

Inês Miranda, nº11, 10ºB

Deixemos o Tabu Em Paz

O teatro é uma arte de comunhão, uma interacção entre cenário e movimento, entre quem vê e quem é visto. “Deixemos o Sexo em Paz”, de Dario Fo (Prémio Nobel da Literatura), é uma dessas comunhões intensas que não só nos colam à cadeira como também fazem da nossa vida uma viagem melhor. Representada por Maria Paulos, actriz, cantora e artista plástica desde 1990, e encenada por Carlos Gualdino, esta peça pode ser vista por quem tem entre doze e… cento e cinquenta anos. É um espectáculo em tom de comédia, didáctico e integrado no âmbito da Educação Sexual.
Esta peça é um divertido monólogo onde, a brincar, se trata muito a sério dos assuntos do sexo que ainda são tabu. Nela, Maria Paulos interpreta uma conferencista que apresenta factos do dia-a-dia ao seu público dentro de temas como “Os Pais e o Sexo”, “A Minha Primeira Experiência Sexual”, “A Menstruação”, “A Virgindade”, “Os Rapazes e as Suas Inseguranças”. Tendo um pódio, uma cadeira e um suporte com um quadro estranhíssimo, a actriz partilha esses momentos movimentando-se pelo seu palco. Tudo isto encontra-se, do princípio ao fim, envolvido em lágrimas de tanto riso e em respostas às curiosidades, ao ridículo e à incredulidade de certas situações que as pessoas vivenciam ao abordar a temática do sexo.
Diverti-me imenso a ver esta peça que aborda problemas da actualidade – o tabu do sexo - de uma maneira descontraída e leve, proporcionando uma relação íntima com quem está a representar. É de salientar a impressionante representação de Maria Paulos que, deveras, conseguiu essa relação. Achei tremendamente espantoso a forma como o espectáculo estava organizado. Enquanto me ria, senti que ficava esclarecida e mais confortável a falar destes assuntos porque, por muito que pense que o sexo, de entre todos os temas, não deva ser tabu, também faço parte daqueles afectados pela opinião popular. Apreciei igualmente o equilíbrio da abordagem dos temas que eram mais direccionados ora para as raparigas ora para os rapazes, dando igual importância ao papel de cada um neste mundo.
Em suma, esta é uma peça que, sem dúvida, vale a pena ver. Chamando a atenção para a importância que tem uma sexualidade bem vivida, por gente bem informada sobre os riscos hoje existentes, salienta a ainda mais importante presença dos sentimentos nas relações que mantemos com os mais próximos de nós. Assim, depois de bem sabida esta história toda do sexo, podemos, finalmente, deixá-lo em paz.

Ana Sofia, 10ºB - nº4

Página de Diário

Vila Nova de Gaia, 16 de Fevereiro de 2011

Querido diário,

Para começar, estou completamente estafada, mas contente. Hoje esperava-me um grande dia como já te tinha contado. Ia ver a peça “Deixemos o Sexo em Paz” de Dario Fo. Um divertidíssimo monólogo representado pela actriz Maria Paulos e encenada por Carlos Gualdino. Encontrava-me super ansiosa pois adoro ir ao teatro.
Então, encaminhei-me para a escola às oito e dez da madrugada. Uma manhã de Quarta--feira como todas as outras. A mesma correria. O mesmo stress que dá cabo de mim. Mal entrei na sala quinze do pavilhão amarelo, já o setôr de Matemática lá estava à espera que nos decidíssemos a deixar o sono para trás das costas e prontos a fazer mil e uma contas e um milhão de gráficos que, sinceramente, me tiram do sério. À medida que os minutos e depois as horas passavam, o sono lá se foi desvanecendo para dar lugar à ansiedade. Íamos ao teatro! Por uma vez na vida, uma recompensa por nos sacrificarmos a vir fazer, logo às oito da manhã de um dia frio, mil e uma contas e um milhão de gráficos. Talvez Deus exista. Assim que o ponteiro atingiu as nove e quarenta, o setôr deu a aula por concluída enquanto a setôra de Português entrava na sala e nos organizava. Finalmente, saímos da escola e encaminhámo-nos para as traseiras da Biblioteca Municipal. A nossa turma foi a primeira a chegar e o orgulho na cara da minha setôra de Português era evidente. Somos criaturas muito bem comportadas! Deixaram-nos entrar em primeiro lugar na sala de teatro e aquele ambiente quente envolveu-me, prometendo uns momentos bem passados. Depois de nos sentarmos, as outras turmas foram entrando e a divisão encheu-se lentamente até que estávamos todos prontos para o espectáculo. As luzes desapareceram, a voz de um senhor preparou-nos para o que aí vinha e Maria Paulos já estava em palco, pronta para começar.
Fiquei muito impressionada com a peça e a forma de organização. A actriz interpretou esplendidamente uma conferencista que apresenta factos do dia-a-dia ao seu público dentro de temas como “Os Pais e o Sexo”, “A Minha Primeira Experiência Sexual”, “A Menstruação”, “A Virgindade”, “Os Rapazes e as Suas Inseguranças”. Tudo isto encontrou-se envolvido numa profunda comicidade, mas, ao mesmo tempo, numa explicação e desmistificação sérias dos assuntos do sexo que ainda hoje são tabus. Salientou-se que é importante estarmos bem informados acerca dos perigos que acarreta para as nossas vidas, mas que, uma vez que a história esteja explicada e aprendida, podemos deixar o sexo em paz e dar também valor aos sentimentos que nutrimos uns pelos outros.
Fiquei sem ar de tanto rir e de certeza que repetiria a experiência. Adorei o facto de nos terem dado esta oportunidade de nos libertar e ajudarem-nos a lidar com os tabus de uma forma menos solenizada e mais leve pois, de uma maneira ou de outra, não podemos negar que fazem parte da nossa vida. Enfim, tenho de ir. Logo conto-te mais.
Um abraço,

Ana Sofia, 10ºB - nº4

“Deixemos o Sexo em Paz”

Texto crítico
No âmbito da Educação Sexual, tive a oportunidade de assistir à peça “Deixemos o Sexo em Paz”, título que é tradução oficial de “Sesso? Grazie, tanto per gradire”, da autoria do dramaturgo italiano Dario Fo. Esta é uma peça que nos remete para as diferentes formas de a sociedade lidar com as questões sexuais procurando estabelecer um nexo de causalidade entre o conservadorismo extremo e alguns dos seríssimos problemas que afectam os adolescentes e jovens, como as gravidezes indesejadas e as doenças sexualmente transmissíveis.
Tendo por público-alvo as camadas mais jovens, normalmente pouco entusiastas do teatro, convém salientar a forma extremamente interessante como a peça se consegue adaptar às especificidades deste tipo de público. Com efeito, e apesar de se tratar de um monólogo, a utilização de um discurso repleto de ironia e humor consegue imprimir um ritmo bastante vivo, captando a atenção do espectador e ajudando a transmitir, de uma forma mais eficiente a mensagem subjacente ao argumento.
A peça retrata as várias facetas das sociedades marcadamente conservadoras, incidindo, em especial, na forma como estas abordam todas as questões ligadas à sexualidade. Procura apontar, de forma bem evidente, padrões comportamentais e culturais típicos de sociedades mais rígidas, levando-nos a compreender o papel da religião no estabelecimento dessa moralidade. Assim, parece-me pertinente este último aspecto, ou seja, a ligação entre sociedades onde a religiosidade é mais vincada e o assumir da sexualidade como assunto tabu. Na verdade, o texto transporta-nos para a sociedade italiana, a partir da qual conseguimos estabelecer uma analogia lógica com o mundo latino, nomeadamente com a sociedade portuguesa, onde, como é sabido, a igreja católica está profundamente enraizada.
Como referido anteriormente, a sociedade portuguesa, encarna, claramente, as questões levantadas pela peça, moldando-se assim durante os tempos, as mentalidades das populações e criando-se padrões de pretensa pureza moral.
A actriz que personifica o monólogo encara durante a peça diversas personagens, assumindo-se, consequentemente como uma personagem tipo que visa representar a sociedade em geral. Surge, por exemplo, como Eva, evocando o papel da mulher numa espécie de degeneração da pureza, apontando-a como fonte do pecado, numa alusão ao machismo dominante em muitas sociedades, que tende a subjugar a mulher e a castrá-la da sua expressão sexual. Encarna, de igual modo, uma mãe italiana que se mostra preocupada com as supostas perversidades do filho, momento que considero particularmente importante e actual. De facto, a mãe mostra-se preocupada mas tende a optar por um caminho punitivo, em detrimento do aconselhamento e de uma discussão aberta. Esta questão mostra-nos um claro afastamento entre pais e filhos no que à educação sexual diz respeito. Os pais, pela forma como não discutem o assunto, criam um clima de constrangimento nos filhos, levando a que estes, mesmo em caso de dúvida ou problema, o guardem para si, ou, inclusivamente, procurem resposta em locais não adequados ou fidedignos.
Esta é uma peça carregada de ironia. Uma peça que procura satirizar a dita sociedade perfeita e normalmente “limpa”, que nos pode rodear. Uma sociedade que prefere evitar, contornar e negligenciar um assunto, a atacá-lo e esclarecê-lo, sem rodeios. Um mundo carregado de pertenças verdades, que, no fundo, não passam de imposições motivadas pela procura de uma suposta pureza moral. Leva-nos a percorrer uma sequência temporal, ajudando-nos a perceber a origem de muitos dos preconceitos que vigoram em relação ao sexo e à educação sexual.
Em jeito de conclusão, assistir a esta peça permite-nos compreender as causas para muitos dos problemas que afectam os jovens em questões ligadas à sexualidade. Há um claro desfasamento entre um cada vez maior acesso à informação (através, sobretudo, dos meios de comunicação) e uma relação mais próxima entre pais e filhos neste domínio. Permite-nos perceber que uma sociedade mais aberta à discussão e ao diálogo seria um mundo melhor. Chegamos à conclusão de que barreiras culturais que a história nos impôs e que urge serem combatidas. E que a erradicação dessas barreiras permitirá aos jovens terem uma relação mais aberta com a educação sexual, evitando males e constrangimentos que prejudicam o seu desenvolvimento harmonioso e saudável.

Crónica
Quarta-feira. Tarde de inverno. Chove na rua. Num ambiente bem iluminado, acolhedor e confortável, assisto pausadamente ao desenrolar de um monólogo.
A actriz remete-nos inicialmente para a interacção entre Adão e Eva. Entramos no mundo da origem do pecado, em que um acto aparentemente inofensivo, se transforma num fio condutor para a degeneração da pureza e da castidade. Somos levados a criar um estigma de culpabilização, atribuindo à mulher uma espécie de papel inconsciente no surgimento do conceito de pecado. E, essa maçã, a tal maçã da origem do pecado, percorre o tempo até aos nossos dias, subalternizando a mulher e retirando-lhe liberdade na sua expressão sexual. Adão acaba por representar o papel do homem incauto e desprevenido, que, qual vítima, é levado, quase à força, a entrar num mundo pecaminoso. Pobre Adão, que simboliza o homem actual, vítima dos encantos e malabarismos da mulher, criminosa na insinuação e responsável pela corrupção moral das sociedades perfeitas.
Seguindo o desenrolar da peça é-nos apresentada, por exemplo, uma jovem e inocente rapariga, grávida de forma precoce, vítima de falta de informação. Acaba por abortar, clandestinamente, em péssimas condições: clara alusão às condicionantes morais e políticas que envolvem a questão do aborto. Em sociedades que se pretendem afirmar como puras e “ limpas”, ignora-se a questão. É viver numa sociedade que faz, mas esconde o que faz, mas critica quem o faz e diz que faz. Sejamos favoráveis ao aborto, mas sejamos conscientes. Sejamos contrários, mas sejamos coerentes.
Segue-se o encarnar numa professora francesa que ensina às mulheres a entrarem num mundo de mentira, treinando-as para, pela falsidade, a agradarem aos maridos. É o currículo da mulher perfeita! A sociedade subalterniza a mulher, confere-lhe um papel submisso. Há que agradar ao homem! É o retrato de um mundo que insiste na desvalorização da felicidade e na realização da mulher. Essa felicidade é, seguramente, factor secundário, sem importância alguma. Importa sim alimentar o ego masculino e servi-lo, viver para os seus anseios e necessidades. No fundo, este é um mundo de Adões e Evas… De Adões que precisam de toda a atenção e de Evas que nasceram para os servir.
Somos, em seguida, transportados até ao mundo de uma mãe italiana que se apercebe das imensas dúvidas que assolam o filho, relativamente a questões ligadas à sexualidade. A mãe vive numa angústia constante, receando que o filho possa, graças à falta de informação, engravidar uma rapariga católica. Perfeitamente visível o papel fundamental que a Igreja Católica assume na formação das mentalidades. Perfeitamente visível o estigma da culpabilização. Que o filho engravidar uma jovem católica constituiria um atentado ao puritanismo social, ou seja, um dos mais graves pecados. Curiosa perspectiva esta, que leva a que pais temam muito mais as consequências do desconhecimento sexual dos filhos, do que esse desconhecimento propriamente dito. Estranho mundo este em que os comportamentos se tornam graves mediante a forma como são vistos e encarados pelos outros. Estranho mundo este em que se ignora a questão essencial e se vive angustiado pela procura do silêncio e da dissimulação.
Contudo, como uma rajada de ar fresco, de inovação, de modernismo de abertura, surge uma rapariga, cuja tia lhe transmite ensinamentos valiosos em relação à sexualidade. Ponto de viragem, de coragem. Entramos no mundo que se pretende real, no mundo em que se entende a importância da sexualidade e a necessidade de se falar dela. No mundo em que surgirá a abertura entre pais e filhos, para que as dúvidas sejam esclarecidas. No mundo em que a saúde e a planificação sexual se sobrepõem aos constrangimentos ditados por séculos de obscurantismo e de falsos moralismos. O papel da família é, seguramente o de educar. E torna-se urgente que o conceito de educação abranja todas as facetas que contribuem para o desenvolvimento correcto e harmonioso dos adolescentes e jovens. E aquela tia, aberta e disposta a esclarecer a sobrinha, representa isso mesmo: um virar de página, em que a verdade e a natureza da vida são assumidas na sua plenitude.
Em jeito de conclusão, somos confrontados com um discurso de mudança. Do palco, são-nos lançadas palavras que incentivam à procura do conhecimento e da verdade. Do palco é-nos lançado o repto para que, nós próprios, possamos assumir um papel de mudança no tratamento das questões ligadas à sexualidade. Porque a inocência só é inocência quando temos consciência dela. Porque a inocência como sinónimo de ignorância é um mal que corrompe o nosso desenvolvimento. Somos seres plenos quando temos acesso à informação e ao conhecimento. E educação sexual tem que sair da escuridão medieval e entrar nas luzes do Renascimento, tornando-se parte integrante de todo o nosso processo de aprendizagem.

Maria Inês dos Reis Magalhães Rodrigues, nº 20,10ºC