Quando vi este livro na livraria, o seu título despertou-me a atenção. Depois de ler a contracapa ainda mais curiosa fiquei. A sua autora é Tony Maguire. É Inglesa e é a narradora e personagem principal da história.
Viveu 20 anos em Londres, actualmente divide o seu tempo entre Norfolk na Grã-Bretanha e a cidade do Cabo na África do sul. Este livro, “Não digas nada à Mamã”, que conta a história da infância e adolescência de Tony foi um dos livros mais vendidos em 2007, no Reino Unido e está traduzido em várias línguas.
Tony recorda quando tinha apenas 6 anos. A sua vida mal começara, mas já sentia as suas amarguras. O Pai começou a molestá-la por essa altura. Quando ela contou à Mãe, esta fez aquilo que nenhuma Mãe deveria fazer; disse-lhe para nunca mais falar nesse assunto. Os anos passaram-se e Tony foi crescendo e os abusos também. O Pai proibiu-a de contar à Mãe ou a outras pessoas. Ameaçava-a constantemente. Aquele seria “o nosso segredo”, e se ela alguma vez se atrevesse a contar a alguém o que quer que fosse, ninguém iria acreditar e culpá-la-iam. Assim foi, Tony engravidou do Pai aos 14 anos e ganhou coragem para revelar o seu segredo. Contou ao seu médico e à Mãe que a culparam, uma vez que deveria tê-lo feito logo no início, não 8 anos depois quando já estava grávida. O Pai foi preso mas não foi por isso que os seus problemas acabaram. Fez um aborto, mas como a criança já estava muito desenvolvida, quase ia morrendo devido a um a hemorragia e ficou estéril. Tentou então afastar-se da Mãe de quem tanto gostava e arranja um trabalho como ama em casa de uma família. Mentiu-lhes sobre a sua identidade, mas eles acabaram por descobrir a verdade e como todos os outros também não compreenderam o seu silêncio.
Tentou matar-se com álcool e comprimidos, cortou os pulsos, sentia que a sua presença na terra era inútil. Foi internada num hospital psiquiátrico onde finalmente se curou e percebeu que afinal pertencia ao mundo, mas que tinha de lutar sozinha. Voltou a viver com a Mãe até que o Pai saiu da prisão. Nessa altura sentiu que tudo aquilo que tinha reconstruído com a Mãe se desmoronava novamente.
Agora Tony já é adulta encontrando-se no hospital a fazer companhia à Mãe, nos seus últimos dias de vida. Pensa em tudo o que lhe aconteceu na infância e que, se tivesse afastado dos Pais talvez o seu percurso fosse diferente.
Este livro prendeu a minha atenção não só pela veracidade da sua história, mas também pelo facto de nos levar a reflectir sobre um drama tão intenso com que se debateu uma criança, obrigada a ocultar da própria Mãe, um segredo que a iria marcar para o resto da vida. Não foi só uma relação pedófila mas também incestuosa. Um duplo sofrimento. Admiro a autora do livro (narradora e personagem principal) que foi capaz de se expor desta forma, porque talvez tenha encontrado na escrita uma maneira de expulsar a sua dor e encarar com mais optimismo a vida que ainda tinha pela frente. O relato que faz do seu passado revela uma mulher madura, corajosa e sensível, que foi capaz de ultrapassar a solidão e todos os fantasmas que assombravam a sua vida. Com a morte da Mãe, Tony apaga o seu tortuoso passado.
É realmente um exemplo de uma mulher lutadora. Infelizmente sabemos que muitos outros casos existem e que nunca são revelados. “Não digas nada à Mamã” talvez incentive essas mulheres a denunciarem esse tipo de violência.
Escolhi uma passagem que para mim resume grande parte da história: Trata-se de uma conversa entre Tony e um Padre do hospital:
“ – O amor é um hábito difícil de quebrar (…) muitas mulheres que tiveram de escapar para refúgios aceitam muitas vezes os companheiros de volta. Porquê? Porque amam não o homem que as maltratou, mas o homem com quem julgaram ter casado (…) os laços de amor formam-se quando se é bebé: a união entre Mãe e filha é forjada nessa altura. (…) As suas emoções estão em conflito com a sua lógica. Emocionalmente, carrega com a culpa da sua infância; racionalmente, sabe que os seus Pais não a merecem e sabe que tão pouco os merecia a eles, nenhuma criança merecia (…). E finalmente contei-lhe o que nunca tinha explicado a ninguém, o que sentia a respeito da Antoniette, a criança que já fora eu.
- Ela teria sido muito diferente se a tivessem deixado crescer normalmente, ir para a universidade, fazer amigos. Nunca teve essa hipótese e sempre que alguma coisa corre mal na minha vida culpo essa infância. Quando eu era muito mais nova, ela apoderava-se de mim e eu revivia novamente todas as suas emoções. Era então que me metia em relações em que era psicologicamente maltratada, com a sensação confortável de um ambiente conhecido. Ou que recomeçava a beber. (…). – Ela nunca me amou. Agora precisa de mim para poder morrer em paz, com o seu sonho intacto, o sonho de um marido atraente que a adora, de um casamento feliz e de uma filha. Eu não passo de uma figurante no seu último acto. É o meu papel aqui.
- E vai destruir esse sonho?
Pensei na forma pequenina da minha Mãe, tão dependente de mim agora. – Não – suspirei – como podia fazer uma coisa dessas?” (Cap. 24 pág. 208/209).
Marta Sofia 11ºB, nº 16
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3 comentários:
Esta muito bem explicido o que voçe escreveu muitos Parabens
Depois de ler o que voçe escreveu comprei o livro ,
neste momento o estou a ler e é muito interessante
Acabei agora mesmo de ler este livro.
Pessoalmente, esta história chocou-me imenso. Como é que é possível alguém fazer uma coisa destas a uma criança, a própria filha!, e ser preso por dois anos como castigo?! A morte era pouco para esse homem nojento e profundamente cruel. E a atitude da mãe de Toni também me revoltou profundamente! Que espécie de mãe é esta que nunca levantou um dedo para proteger a filha e nunca a amou verdadeiramente?! Ela era uma fraca, mas era sobretudo uma cabra! (perdoem-me os mais sensíveis)
Este livro revoltou-me, chocou-me e emocionou-me muito! Chorei do princípio ao fim, e tenho uma grande admiração pela autora, por ter conseguido sobreviver depois de tudo o que lhe fizeram, depois de ser mesquinhamente julgada por todos. Mesmo com a ferida aberta, mas ela conseguiu vencer, crando um mundo de ilusão, essa forma de vida que sempre conheceu.
De facto, este livro ensinou-me que "o amor é um hábito difícil de quebrar", mas isso, por vezes, tem de ser feito.
Aconselho a lerem "Quando o papá voltar", a segunda parte desta história de vida e se gostam deste tipo de livros leiam o inferno de Alice, uma rapariga que começou a ser abusada pelo pai desde os 6 meses de idade e para além disso levava-a para redes de pedofilia. Alice para além disso sofria de personalidades multiplas e ainda hoje trava uma grande batalha para sobreviver.
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