quarta-feira, 9 de julho de 2008

Henry Michaux


5.
Estou a escrever-te do fim do mundo. Tens de sabê-lo. É vulgar as árvores estremecerem. Apanham-se as folhas. Com tantas nervuras que nem se imagina. Mas para quê? Já nada têm a ver com a sua árvore, e por isso dispersamos, contrariadas.
A vida na terrra não poderia prosseguir sem vento? Ou tem tudo sempre, sempre que tremer?
Também há movimentos subterrâneos, e em casa é como se viessem cóleras ter connosco, como se austeros seres viessem arrancar-nos confissões.
Nada vemos, do que importa tão pouco ver-se. Nada, e no entanto trememos. Porquê?

Henri Michaux, Estou a Escrever-te de um País Distante, Lisboa, Hiena Editora, 1986



Henri Michaux 1899-1984
Sem Título. 1961
Desenho a Tinta da China sobre papel
746 x 1099 mm

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