sábado, 19 de julho de 2008

Na palavra me sustento

Poderia ter escrito a tremer de respirares tão longe
Ter escrito com o sangue.
Também poderia ter escrito as visões
Se os olhos divididos em partes não sobrassem
No vazio de ceguez
E luz.
Poderia ter escrito o que sei
Do futuro e de ti
E de ter visto no deserto
O silêncio, o fogo e o dilúvio.
De dormir cheio de sede e poderia
Escrever
O interior do repouso
E ser faúlha onde a morte vive
E a vida rompe.
E poderia ter escrito o meu nome no teu nome
Porque me alimento da tua boca
E na palavra me sustento em ti.

Daniel Faria

Assim abre [em ferida de beleza e luz] a Poesia de Daniel Faria, um cometa que passou a respirar como um clarão.
Edições Quasi

1 comentário:

j. disse...

tenho muitas palavras, mas não digo.

deixo aqui endereço do site oficial de daniel faria onde descobri muito mais coisas sobre ele para além daquelas que já sabia: morreu novo, foi padre e podia muito bem ter vivido no final do século dezanove.

http://www.danielfaria.org/