segunda-feira, 30 de novembro de 2009

“Já chega, Basta! Estou farto!”

Sem querer roubar nada ao discurso de demissão do então líder do PPD/PSD e, felizmente, ainda actual Presidente da nossa Câmara Municipal, Dr. Luís Filipe Menezes, não encontrei melhor forma de expressão para esta obra (leia-se título) do que a citação supra-referida. Isto, porque estava eu a fazer um simples e vulgar zapping quando parei na TVI, na conhecida telenovela para adolescentes “Morangos Com Açúcar” (MCA), devido à péssima programação dos finais de tarde. Contudo, não é da nossa paupérrima programação televisiva nacional que eu vos venho falar, mas, sim, do conteúdo dos MCA.
Assim sendo, deparei-me com uma nova série, devido ao início do ano lectivo, cheia de novos actores, cenários (interpretem esta palavra como quiserem) e “histórias da carochinha” para contar. Mais do mesmo, portanto...
Ora, foi exactamente uma destas histórias que me deixou perplexo, estupefacto ou, melhor dizendo (e perdoem-me a sinceridade), absolutamente estúpido: um dos temas principais da telenovela baseia-se na crença de um grupo de três raparigas, especialmente de uma Lúcia, que um dos seus colegas de escola (Alex) é vampiro! De resto, Lúcia encontra-se totalmente apaixonada por Alex, pois considera-lo diferente de todos os outros (por ser vampiro...)! Isso mesmo: uma adaptação foleira do “Crepúsculo”, baseada na popularidade e no sucesso que este filme, inexplicavelmente, ainda detém.
E eu a pensar que a falta de originalidade das telenovelas portuguesas não podia descer mais... agora isto! Uma autêntica cópia do “Crepúsculo”, cuja acção se desenrola à volta de um ‘cross over’ realizado pela autora do mesmo, a partir de uma cena cortada do filme “Harry Potter e o Cálice de Fogo” em que, por extraordinária coincidência, também entra Robert Pattinson (actor principal do “Crepúsculo”)! Desta forma, o incrível “Crepúsculo” pode deixar muito bem de o ser... ou se calhar não: afinal só mesmo esta “saga de vampiros” é que conseguiu pôr os prestigiados Muse a soar pessimamente com o seu tema “Uprising” – criado para o segundo filme desta saga – ao transformar o seu som único e original em algo praticamente irreconhecível. Sem dúvida, incrível!
De facto, um dos melhores comediantes deste mundo (Conan O’Brien), chegou mesmo a comentar este assunto no seu programa ao afirmar: “ (...) estamos no meio da mania dos vampiros: todas as histórias envolvem um bonito vampiro melancólico e não compreendido, que deixa todas as adolescentes loucas (...).” Conan prosseguiu o seu programa ao colocar na plateia um “vampiro”, para ridicularizar a figura triste deste tema que, hoje em dia, encontra-se em todo o lado. E isto deve chegar para ilustrar o quanto patético é o tema supra-referido – pelo menos aos olhos de pessoas minimamente crescidas – que se desenrola, aborrecidamente, episódio após episódio nos MCA.
Por isso, critico os MCA e a TVI por tentarem impor a “mania dos vampiros” na história de uma telenovela/série para adolescentes, na qual se deveriam passar mensagens importantes e/ou lições de vida para esta fase da vida tão crucial para o futuro dos jovens. Aproveito, também, para congratular a RTP1 por ter estreado uma nova série intitulada “The Vampires’ Diaries” (Os Diários dos Vampiros) e não inserir um vampiro, ou algo relacionado com esse tema, num dos seus programas mais vistos como, por exemplo, “As Escolhas de Marcelo” ou “O Preço Certo”.
Concluindo, sendo a SIC (pelo menos até agora) a única estação resistente à estupidez da moda vampírica, resta-nos esperar e rezar muito para que esta fantochada acabe de uma vez por todas e possamos ter uma programação nacional de maior qualidade, originalidade e sem fantasias irrealistas, dedicada a temas muito mais relevantes e cultos do que aqueles que se verificam hoje em dia.

O predador de palavras

Projecto Beatriz

Entra-se na sala. A peça rectangular no centro do palco chama imediatamente a atenção. É-se surpreendido pela nudez da sala. Não há cortinas, cabine de som ou bastidores. Há um palco e uma plateia, o essencial para uma encenação. Não terá muito mais de 200 lugares, a plateia, mas a massa humana que para lá se desloca garante que serão todos preenchidos. Mal nos sentamos, começamos a aperceber-nos da magnitude da peça. Sala cheia, faixa etária dos 14 aos 99 anos. As luzes vão, gradualmente, diminuindo de intensidade. A peça vai começar.
A primeira cena: um homem deitado na cama, primeira de muitas utilizações da peça rectangular com que nos deparamos, uma mulher que dele se aproxima. Há um crescendo de intimidade entre os dois, pontuado por sucessivas frustrações e desentendimentos destes, culminando na separação, marcada pelo “desmontar” da peça que inicialmente parecia sólida. Desenvolvem-se dois monólogos em simultâneo, que nos elucidam acerca do tema da peça: as diferenças e semelhanças entre a mulher e o homem.
A peça desenvolve-se a partir daí, composta por fragmentos, cenas soltas, que ilustram diferentes situações de diferença e semelhança entre os dois géneros (pois, segundo Freud, as diferenças entre os sexos são meramente físicas. O género, esse sim, marca as diferenças sociais e psicológicas, e é definido pelo papel de cada um dos sexos na sociedade), ligando temas como o racismo, a homossexualidade, a liberdade de expressão, a escolha de carreiras profissionais e os problemas matrimoniais, entre outros temas de actualidade inquestionável.
Toda a encenação, desde a lumino e sonoplastia até à cenografia e aos adereços, é de uma qualidade inimaginável para um grupo de alunos (apenas os actores eram profissionais), ainda que de uma escola de artes performativas, e a qualidade de tudo isto chega a ultrapassar os padrões profissionais. A representação é excelente, apesar de se notarem as falhas, naturais, decorrentes do facto de se tratar de uma peça inédita, escrita por uma aluna, e de se tratar de uma estreia. Há, de facto, arestas a limar, mas a prática decorrente das sucessivas repetições da encenação tratará de o fazer.
Em suma, Projecto Beatriz, um nome a reter, e uma peça que recomendamos a qualquer pessoa.

Pedro Barbieri, Joana Ribeir e André Oliveira - 12ºC
Joana Gomes - 12ºB

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A minha primeira vez - de metro

Havia anos que queria experimentar andar de metro, mas não podia. Os meus pais trabalhavam numa fábrica, para a qual se deslocavam sempre de carro. De facto, não havia tempo para a satisfação do meu capricho. Não era um sonho, mas uma tremenda vontade de conhecimento que acalentava desde criança por este transporte público.
Certo dia, os meus pais saíram mais cedo do emprego. Eu, que chegava da escola com a minha avó todos os dias por volta das cinco da tarde, acabara de lanchar. Assim que ouvi o barulho da porta a ser aberta, corri numa grande ansiedade para ver quem era.
- Temos uma surpresa para ti! - disseram-me.
Percebi logo o que íamos fazer e rapidamente peguei no casaco e saí porta fora.
Quando chegámos à estação subterrânea do metro, pulei de alegria. Os dois minutos que faltavam para chegar demoravam eternidades.
Entrei, finalmente, no metro. Parei, pensei e disse:
- Não estão contentes?
Fiquei bastante espantado. As pessoas, as suas expressões e atitudes de desprezo e desinteresse estragaram a minha viagem. Numa palavra, caracterizei-a como desilusão. Timidamente, pedi aos meus pais:
- Podemos ir embora?
No fim, percebi que a viagem com que tanto sonhava apenas serviu para perceber a frieza e desintegração com que vivemos em sociedade. E, por mais estranho que pareça, hoje faço o mesmo que aquelas pessoas.

Tomás, 10º I

Cartaz alusivo ao corta mato

Núcleo de Estágio FADEUP 2009/2010

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

(Sobre)Viver...

Quadras

Isto é um jogo difícil,
o qual temos de viver,
pode parecer honesto e fácil,
mas temos de o conhecer.

A natureza é bela,
e ajuda-nos a sobreviver
temos de saber respeitar aquela,
que nos dá força para crescer.

Vamos sempre avançar,
tentando sempre sorrir,
ninguém nos pode atrasar,
nem nunca nos fazer dormir.

Não é preciso ter sorte,
para ter um sorriso eterno,
nem ser forte,
para aguentar uma noite de inverno.

Há momentos,
com tantas preocupações,
e pensamentos,
com montes de confusões.

Falo para quem me saiba ouvir,
escrevo para ti que me vais ler,
e explico para alguém,
que me queira perceber.

Rute Sousa 12ºC

Uma vida

Brincar,
com o que somos,
e não com o que fomos.
Chorar,
de pura alegria,
e olhar para a criança que sorria.
Calar,
o que queremos,
ou o que devemos.
Cantar,
com a emoção,
contida no coração.
Gritar,
por motivo de dor,
ou pelo prazer de um amor.
Amar,
não quem nos chama,
mas sim quem nos ama.
Respeitar,
quem te desafia,
por uma filosofia de dia.
Brilhar,
com um olhar,
na realidade ou a sonhar.

Rute Sousa 12ºC

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Visita de estudo à Quinta da Regaleira (28 de Outubro de 2009)

Introdução

• A Quinta da Regaleira encontra-se situada no centro histórico de Sintra e está classificada como Património Mundial da UNESCO.
• O início da sua construção deu-se no século XX e partiu de um projecto pensado ao pormenor, onde foi implementado um famoso conjunto de criações artísticas que transmitem uma mensagem implícita nas suas construções e na exuberância da sua arquitectura.
• Para além do património edificado, a Quinta da Regaleira contém uma componente paisagística e natural extremamente apelativa graças à sua moldura de verde impressionante composta pelos seus jardins e bosques.
• No seu património vasto e bastante rico encontramos o imponente e enigmático poço iniciático, grutas subterrâneas e vários lagos.
• A riqueza e a mistura de estilos prevalecem nas construções, permitindo ao visitante ter contacto directo com a arquitectura de estilo Neo-Manuelino e traços Neo-Góticos.
• As correntes estéticas e filosóficas encontram-se patentes e evidenciam o espírito dos seus construtores e proprietário, Carvalho Monteiro (o milionário), que compraram a Quinta à Baronesa da Regaleira.
• António Augusto Carvalho Monteiro nasceu no Rio de Janeiro em 1848, filho de pais portugueses que cedo o trouxeram para Portugal. Herdeiro de uma grande fortuna familiar gerada no Brasil pelo comércio dos cafés e diamantes. Desta forma gastou avultadas somas a dar forma à sua fantasia.
• Alguns dos interesses de Carvalho Monteiro baseavam-se na sua paixão pelos livros, pelos instrumentos musicais, pelo estudo das borboletas e pelas conchas.
• Empenhado em construir a sua mansão filosofal, o proprietário da quinta convidou o arquitecto Luigi Manini, conceituado cenógrafo, arquitecto e pintor adepto do estilo romântico.
• A Quinta da Regaleira deixa entender a nostalgia de um paraíso perdido composto de lembranças e conhecimentos dispersos que remontam à epopeia dos descobrimentos e à imagem duradoura desse período. O culto do revivido e a exaltação do exótico, do sobrenatural e da presença divina, incluindo o “Mito do Quinto Império” e o “espírito dos templários”, é mais do que evidente em toda a propriedade.
• No conjunto da Regaleira existem traços nítidos das ideias políticas (devoção pela monarquia) e religiosas (paganismo e cristianismo).
• Em 1946 a Quinta da Regaleira é adquirida por Waldemar Jara d’Orey, que introduziu várias modificações a seu gosto.
• Em 1987 a propriedade é vendida à empresa Japonesa Aoki Corporation.
• Em 1997 a Câmara Municipal de Sintra toma posse.



Locais emblemáticos visitados e o seu contexto

Palácio – O seu interior transmite-nos um ambiente intimista e acolhedor, proporcionado pela abundância de ornamentos em madeira de carvalho e castanho e pelas portas de cor púrpura e de madeira com acabamentos em metal. Nos tectos extremamente elaborados e trabalhados em madeiras exóticas, sobressaem figuras de dimensões avultadas.
Na Sala dos Reis, no friso superior encontram-se pintados os monarcas Portugueses, criteriosamente seleccionados, desde D. Afonso Henriques a D. João V, o último Rei do projecto imperial Lusitano, excluindo, obviamente, a dinastia dos Filipes. A disposição destes monarcas baseia-se na sua ordem cronológica, tendo merecido especial atenção a localização do nascer e do pôr do Sol, que ilustra o “período de ouro” do Império Português e está associado à crença no Sebastianismo e no “Quinto Império”. O pôr-do-sol simboliza a necessidade de “matar” o Império corrupto existente até então, descendo aos “Infernos”, para em seguida dar lugar ao nascimento de um novo Império Cultural.

Capela da Santíssima Trindade – Segue a linha decorativa que reveste o palácio. Em termos sagrados a sua orientação é perfeita: a entrada a Ocidente e altar-mor para Oriente. Possui uma fachada brilhantemente trabalhada e cheia de simbologia. O pavimento encontra-se coberto de mosaico, encontra-se uma grande variedade de cruzes, umas de Cristo, outras templárias. A Capela contém uma cripta, lugar propício à meditação.
A presença de um grande número de cruzes templárias encontra-se também associada ao objectivo primário dos descobrimentos Portugueses: a expansão de um Império Cultural baseado no Cristianismo. No entanto, devido à corrupção, que se encontra presente em todos os Homens, este acabou por se desenvolver segundo uma ideologia distinta, a criação de um Império Material. Estabelece-se então uma relação com uma pintura ilustrativa do sermão de Santo António aos peixes, que também tem como temática a corrupção do Homem.
Logo à entrada da Capela, no tecto, surge um “delta luminoso” que nos sugere a inspiração maçónico-templária.

Os Jardins – São um lugar de fantasia e recolhimento. Tratando-se de um parque de influência romântica, é evidente a mistura de plantas e árvores trazidas das mais variadas partes do globo.
O passeio pelo jardim traduz-se num caminho de ascensão, numa crescente depuração dos lugares, numa subida imaterial rodeada da mais pura vegetação, que se vai tornando espontânea e desordenada à medida que alcançamos o topo, pretendendo reforçar o efeito de primitivismo, como se o homem moderno tivesse necessidade de regressar ao passado “rural”.
Durante o percurso do jardim encontram-se estátuas que simbolizam: o poder, onde se destaca o elevado número de leões; a procura do interior, onde se destaca a presença de búzios e conchas; e a relevância dos seres mitológicos, entre os quais nove Deuses, que representam as virtudes e características do povo, nomeadamente o Português.

Poço Iniciático – Todos os caminhos podem conduzir a uma aparente anta. E eis que uma curiosa porta de pedra roda impulsionada por um mecanismo oculto e nos faculta a entrada para outro mundo.
É o monumental poço, espécie de torre invertida que mergulha nas profundezas da terra. De 15 em 15 degraus se descem os 9 patamares desta imensa galeria em espiral, sustentada por inúmeras colunas de apurado trabalho, que vão marcando o ritmo das escadarias. Gravada em embutidos de mármore, sobressai uma cruz templária/rosa-dos-ventos, que nos orienta para a saída.
As galerias conduzem-nos, em autênticos labirintos, pelo mundo subterrâneo. Estas elegem os que utilizam o raciocínio e o intelecto em detriorimento da força física.
A saída dos túneis é feita através de uma travessia, de pedra em pedra, sobre um lago, representando a necessidade de caminhar sobre a água, água esta que é um dos elementos fundamentais na concepção recreativa e simbólica dos jardins. É fonte de vida, de fertilidade e de abundância. A água foi sempre entendida como sinal da graça divina e purificação do homem.



Pessoa e a Quinta da Regaleira

• “Carvalho Monteiro expressa em pedra a mensagem que Pessoa expressa nos seus poemas.”
• Pessoa escreveu cerca de 45 poemas relacionados com a Quinta da Regaleira.
• O Esoterismo presente na Capela da Santíssima Trindade marca também a poesia de Fernando Pessoa, que possuía um elevado interesse, obsessão até, pelo auto-conhecimento.
• Tanto os búzios como o Poço Iniciático são caracterizados por possuírem nove plataformas, número que, tal como na poesia de Pessoa, simbolizam os nove anéis do Inferno de Dante e os nove meses de gestação, representando a passagem por uma fase de formação/recriação, também representada pelos quinze degraus entre cada plataforma, sendo o número três o que representa o ciclo da vida e o cinco o que representa a dúvida.
• Se Fernando Pessoa conhecia a Regaleira, sobretudo a sua dimensão simbólica e mítica, não poderia deixar de a considerar como uma Estalagem do Assombro, como disse no poema Iniciação.



INICIAÇÃO - FERNANDO PESSOA


Não dormes sob os ciprestes,
Pois não há sono no mundo.

O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo.
Vem a noite, que é a morte,
E a sombra acabou sem ser.
Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.
Mas na Estalagem do Assombro
Tiram-te os Anjos a capa:
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.
Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nu.
Não tens vestes, não tens nada:
Tens só teu corpo, que és tu.
Por fim, na funda caverna,
Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais.

A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na Sorte.
Não estás morto, entre ciprestes
Neófito, não há morte.

Gabriel Gonzaga e Hugo Machado, 12ºH