terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Alvorada

Alvorada ao acordar…
Lentamente abrindo os olhos com pesar,
De face molhada e almofada manchada com gotas.
Frutos de um pesadelo nocturno,
Ou apenas um pesadelo real.
A memória não lembra sonho tal que dos meus olhos pudessem brotar lágrimas enquanto durmo,
Mas a prova lá está…
Aquela pequena gota que rejubila na minha face…
Sem razão aparente tal vontade me apanha,
E mais cristalinas que as primeiras, outras percorrem os meus cabelos marcando a sua passagem…
Deixam marcas profundas como rios de lava…
Cada uma, a seguir à outra cai com o peso da minha alma.
Peso de um sonho que afinal não é sonho.
Pois os sonhos só descubro que o são quando já me encontro no seu meio…
É mais que sonho, lágrimas reais, que esperam ansiosamente por saltar da minha pálpebra.
É a saudade que se afoga nos meus olhos…

Joana Gomes, 11º B nº27

Vamos dar os vivas a um currículo estanque?

Eis a minha questão…
Deveremos apoiar o sistema educacional português? Será que todos apoiam ou serão apenas demasiado covardes para se opor?
Não pretendo falar do maravilhoso esquema do ministério da educação português para as escolas ou professores, pois essa batalha contra o governo já estão os portugueses fartos de travar; anseio, sim, por falar do nosso currículo para entrada na faculdade, ao qual ninguém parece opor-se.
A verdade é que uma vez que um aluno português chega ao fim do 9º ano tem de escolher o curso em que ingressar, Ciências e Tecnologias, Ciências Socioeconómicas, Ciências Humanísticas ou Artes - a decisão que tomar vai comandar o resto da sua vida (pelo menos em Portugal). Após iniciar esse curso, não poderá escolher assistir a nenhuma das outras disciplinas pertencentes a outros cursos, ou seja, está preso à decisão que tomou! Imaginemos que um qualquer aluno opta por frequentar o curso de ciências e tecnologias e após um ano nesse curso se arrepende e gostaria de mudar para outro curso - a verdade é que não pode, a não ser que volte para o 10º ano de escolaridade, o que na minha opinião é verdadeiramente um absurdo. Consideremos, então, uma outra situação hipotética: se esse tal aluno, que pretendia abandonar o curso de Ciências e assistir a outro curso, não quiser voltar ao 10º ano novamente, uma vez que até há disciplinas gerais para as quais já possui nota de 10º ano, esse aluno até poderá fazer os exames referentes ao curso que pretende, sem ser o de Ciências, mas ele será obrigado a continuar em Ciências e fazer todas as disciplinas para que finalmente tenha o diploma do 12º ano e as disciplinas às quais assistiu durante 3 anos não lhe serviram para rigorosamente nada!
Pergunto-me quantos alunos não se encontrarão na mesma situação e se sentem indignados com esta questão?!
E este sistema apenas funciona em Portugal. Será que os alunos portugueses são obrigados a ficar em Portugal no ensino superior? Sim, porque com um sistema assim é muito complicado para um aluno português ir estudar para fora do país com o nosso espectacular currículo estanque! Não temos qualquer equivalência fora de Portugal, nem as nossas disciplinas são iguais às outras, somos obrigados a ter disciplinas das quais muitas delas não nos servirão de nada na nossa vida futura. Penso que seria uma questão a debater, mas, reflectindo bem, num país com um Ministério da Educação como este, pôr este assunto em debate estaria completamente fora de questão uma vez que jamais ouviriam uma queixa de um estudante muito menos pondo em causa as suas fantásticas decisões.
Na minha opinião seria uma óptima ideia se alguém se questionasse acerca deste particular assunto uma vez que sou um desses alunos para o qual este sistema não serve, sou apologista do sistema escolar inglês, onde se escolhem as disciplinas que realmente utilizaremos no nosso futuro. Porque não pode um aluno português escolher ter Biologia e Desenho ao mesmo tempo? Porque tem mesmo de ser obrigado a assistir a algo que não quer e a fazer outra disciplina que queira por exame?
Perguntas sem respostas num país em que a opinião pública não conta.

Joana Gomes, 11º B nº27

Participaçao no V dia aberto realizado pela faculdade de medicina

No passado dia 21 de Janeiro, realizou-se o V dia aberto da faculdade de medicina, durante o qual vários alunos da nossa Escola tiveram o privilégio de fazer uma visita guiada pelo Hospital de São João.

O objectivo deste evento é dar a conhecer o curso de medicina a estudantes do ensino secundário e promover a exploração vocacional através da realização de actividades práticas e interactivas bem como o contacto com alunos da própria instituição.

Durante a manhã foi-nos apresentado o vice-director da FMUP e duas Professoras Doutoras da casa, que nos deram a conhecer a história do edifício, projectos de remodelação do mesmo, o plano curricular e ainda partilharam connosco o testemunho os seus percursos académicos notáveis e os respectivos marcos mais significativos.

Assistimos à actuação da tuna feminina e em seguida visitámos uma exposição pedagógica, em que estiveram vários serviços representados com actividades, como, por exemplo, o serviço de cirurgia vascular, microbiologia, pneumologia, entre outros.

Após o almoço volante na faculdade, desenrolou-se, quanto a mim, a melhor parte do dia: a visita guiada pelo hospital. Divididos por grupos, o nosso percurso passou pelo Centro de Simulação Médica, pelo Museu do Instituto de Anatomia, pela Associação de Estudantes e pelos serviços de Urgências de Pediatria, de Fisiatria e de Psiquiatria.

Na minha opinião, a organização de dias como este é extremamente importante para a tomada de consciência da realidade universitária, para o esclarecimento de dúvidas relativas ao plano curricular, e mais ainda para a escolha do curso a seguir.

Foi um dia muito bem passado, onde tiveram lugar brincadeiras e peripécias engraçadas, como o facto de os próprios alunos da faculdade que nos acompanhavam na visita se terem perdido por diversas vezes nos corredores do hospital.

Por último fica um conselho: no próximo dia aberto da FMUP é útil levar na mochila um mapa do hospital!

Sofia Cunha, Nº22 11º C

Um momento mágico

A noite cobriu a minha alma de solidão e fez silêncio no meu coração. Quero dormir…mas o sono não chega… Fixo, então, o olhar num ponto qualquer e o meu coração sobressalta-se. Estás aqui comigo, inventado nas sombras que se transformam a cada instante. O teu rosto pintado nesta parede sorri para mim. Se os olhos te perdem por um momento, já não te encontro no mesmo sítio mas, sim, mais além. Danças à volta do meu quarto, giras no meu pensamento. Envolves-me num doce abraço e quase não sinto meu corpo. Sou essa outra sombra que te segue de parede em parede, presa na tua magia. Ouço uma melodia que não reconheço. É uma canção suave que me embala os sentidos. Vem de longe e canta bonitas palavras. Será a tua voz? Reconheço as palavras de encanto, as sílabas sussurradas. Sim, eu sei que és tu… sinto que és tu! Não sei quanto tempo fiquei assim parada, o olhar fixo nas sombras da noite, embalada pelo cair da chuva. Sonhei-te acordada, com os sentidos presos num turbilhão de emoções que me deixaram confusa e assustada, mas feliz. Foi um breve momento, perdido no tempo, entre a realidade e o sonho… Foi um instante mágico em que o coração bateu por ti e me embalou num sono profundo.

Bárbara Fonseca, 11ºD

“Porto Barroco”

Deixando a Estação de São Bento, a turma sobe em fila indiana (ou quase) até à Igreja de Santa Clara. Chegando a uma praça, mesmo em frente ao mosteiro, pudemos observar o Convento de Santa Clara, adjacente à Igreja, que foi, em parte, convertido nas instalações da PSP do Aljube. Passando por uma abertura em arco, encontrámo-nos à entrada do Convento e da Igreja. Aqui pudemos identificar traços da arquitectura gótica, como o arco ogival, situado sob as portadas da Igreja, e do barroco, com as colunas em espiral e algumas figuras de santos. A fachada em pedra é fria e mostra marcas do tempo, sendo que a impressão à entrada não é muito acolhedora. Ao deslocarmo-nos para o interior da Igreja, a sensação é bem diferente.
Sentado num dos bancos anteriores, pude observar a nave de uma ponta à outra e ficar com uma impressão geral da estrutura da Igreja. A primeira percepção é que a luz é mais abundante no altar-mor, o que, naturalmente, é o efeito pretendido, mas vou começar por uma observação mais geral. A Igreja de Santa Clara é alta e longa, mas, sobretudo, exuberantemente decorada. O tecto apresenta uma série de arcos consecutivos, bem trabalhados, que se intersectam aos pares em largas circunferências ornamentadas. Logo abaixo das janelas rodeadas por arcos, encontram-se, a um nível elevado e inacessível do interior, os locais próprios para as clarissas assistirem à missa, uma espécie de varandas cobertas por um gradeamento, sem grande decoração, claro, pois o objectivo aqui não era chamar a atenção dos fiéis. Abaixo encontram-se as sanefas, uma espécie de cortinado ornamentado que se dispõe ao longo da nave. Enquadradas lateralmente no corpo da Igreja, por baixo das sanefas, como se de uma montra ou peça de teatro se tratasse, estão os vários retábulos, de um detalhe verdadeiramente impressionante. Neles nenhum pequeno espaço é deixado vazio, contendo uma exuberância inexplicável, com arcos e colunas em espiral revestidas por imensas figuras de santos, estatuetas e outros ornamentos que se integram e combinam com graça e nos fazem, de certa forma, contemplar o poderio da Igreja na época do Barroco, reforma à qual a Igreja de Santa Clara foi sujeita na primeira metade do século XVIII, sendo inteiramente revestida por talha dourada, entre outras novas ornamentações, embora o final da sua construção já datasse do século XV. Resta referir o altar-mor, também muito trabalhado, que parece sobressair e luzir com maior intensidade. No seu retábulo encontra-se uma obra de arte barroca, que, segundo pesquisei, é autoria do pintor e escultor portuense Joaquim Rafael. Ao lado do altar-mor encontram-se as figuras de São Francisco e Santa Clara, a última retratada a segurar o cálice com o qual, diz a lenda, terá afastado os soldados invasores. Para concluir, quero apenas dizer que fiquei com uma óptima impressão desta Igreja, espantosamente rica e trabalhada, bem demonstrativa da forma de arte Barroca e ao mesmo tempo bastante acolhedora.
Uma vez de saída, a turma iniciou uma caminhada até à Igreja de São Francisco. A sua aparência exterior é bem mais impressionante do que a da Igreja de Santa Clara, com um grande vitral circular, a estátua de São Francisco de Assis e o símbolo da Ordem dos Franciscanos.
Passando uma entrada remodelada, onde são vendidas lembranças, demos entrada na Igreja. Talvez devido à orientação que o guia decidiu tomar, não fiquei logo com uma perspectiva geral desta, mas posso desde já apontar que é muito maior, ou seja, muito mais alta, larga e comprida do que a Igreja de Santa Clara. Por toda a Igreja estão dispostos retábulos imensamente trabalhados, com imensas estatuetas, à semelhança dos da outra Igreja mas com bem maiores dimensões e expressividade. De salientar, a árvore genealógica da família de Jesus, a Árvore de Jessé, sob a figura deitada da Virgem Maria, assim como capelas dedicadas a quatro (outrora) importantes famílias da cidade do Porto, umas mais trabalhadas que outras. Por falar em famílias importantes, é de notar que em redor da Igreja se encontram, embutidas no solo, sepulturas cobertas em madeira pertencentes não só a frades mas também a indivíduos de famílias importantes que preferiram continuar destacados (do comum cemitério, neste caso) depois da morte, permanecendo em lugar sagrado. Sobressai, numa das capelas que honram estas famílias, um portão em talha dourada com uma geometria cheia de curvas e contra-curvas, conforme indicado pelo guia. Interessante também é a nave central, rodeada por espectaculares colunas barrocas, sob um harmonioso tecto em frente ao imponente altar-mor, extremamente trabalhado em todos os aspectos, com várias figuras de santos franciscanos, colunas em espiral e uma série de bases em pirâmide que terminam na figura crucificada de Cristo. Toda a Igreja é, aliás, muitíssimo trabalhada, em que todos os elementos conjugados se transformam num autêntico encanto para a vista.
Gostava de referir que provavelmente teria apreciado melhor a Igreja sem a intervenção do guia (embora este fosse importante para ficarmos a saber da história da Igreja e do significado de algumas obras de arte) porque me parece que este percorreu todos os elementos de uma forma muito particular, sem nos deixar contemplar, com o tempo que fosse preciso, todo a magnífica estrutura no geral. Ainda assim, fiquei obviamente impressionado com toda a grandiosidade da Igreja de São Francisco, que é ainda mais interessante que a de Santa Clara, na minha opinião. Para mim, a visita não podia ter valido mais a pena, porque não sabia até que ponto podia ir o detalhe e deslumbramento da criação do Barroco, os quais, após visitar estas duas grandes Igrejas, reconheço completamente.

Daniel Nora, 11º D

Um passeio pelo Barroco

A visita que realizámos no passado dia 5 de Novembro de 2008 foi um importante momento que me fez viajar no tempo e reflectir sobre a arte de alguns séculos atrás. No século XVII iniciou-se um movimento artístico e cultural, que se prolongou até ao século XVIII, em que o homem produziu um género de arte caracterizada pela riqueza, pela exuberância, pelo exagero. As igrejas que visitámos são exemplo disso. O estilo barroco é, pois, um movimento de ruptura que se opôs à harmonia e equilíbrio clássicos, apelando mais às emoções humanas.
O gosto pela grandiosidade, as formas exuberantes, a exagerada ornamentação, as explosões de rendilhados e dourados característicos do Barroco, são bem visíveis nas Igrejas de Santa Clara e de S. Francisco da Ordem Terceira. São Igrejas marcadas pela articulação de inúmeras estruturas que juntamente com a talha dourada se apoderam totalmente do espaço. É esta a principal característica do Barroco: o horror ao vazio.
Santa Clara foi concluída em 1457, tendo sofrido modificações nos séculos seguintes. A sua forma de “salão” dá-lhe amplitude. A rica talha dourada já bastante desbotada torna-a sombria e misteriosa. A roda dos enjeitados, a marcar a passagem da igreja para o interior do convento, faz-nos sentir emoções de crueldade vividas em tempos passados. A Igreja de S. Francisco é bastante maior. É constituída por três naves e é marcada pelo seu belíssimo portal “rocaille”, que protege a Senhora da Soledade, e pela famosa escultura da Árvore de Jessé. A talha dourada convive harmoniosamente com a elegância dos ogivais.
Esta pequena viagem ao Barroco fez-me sentir e apreciar algumas das suas características. Enquanto visitava as Igrejas, fui percebendo a profunda relação entre a arquitectura e a música barroca, que já me é familiar. Consegui perceber como a arquitectura se reflecte na música, consegui “ver” as emoções que o som provoca. O horror ao vazio, o gosto pela grandiosidade e a exagerada ornamentação são algumas das características que marcaram este período em diversas artes, da arquitectura à música, passando pela literatura, escultura, dança, entre outras. É a arte pela arte!

Carolina Coimbra, 10ºD Nº21

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Cartoon

Numa primeira impressão, o cartoon transmitiu-me a ideia de ensino. Está também claramente expresso na imagem que para haver ensino terá de haver língua, meio de comunicação.
As duas pessoas desenhadas transmitem-me a sensação clara de professor e aluno. O professor, à esquerda, tem um ar bastante intelectual, atendendo ao seu aspecto, usa óculos na ponta do nariz, um fato e uma gravata. Temos também o aluno, à direita, que, apesar do boné e das suas roupas bastante modernas, parece estar interessado e espantado por aquilo que lhe está a ser ensinado.
A ponte, desenhada entre as duas pessoas, significa, para mim, a transmissão de conhecimentos entre as duas personagens. Afirmo que o que está a ser transmitido são conhecimentos devido às letras desenhadas em cima da ponte, dando a ideia de que estão a atravessá-la. Porém uma ponte tem dois sentidos, e penso que isso foi também transferido para o cartoon de modo a informar-nos que não é apenas o aluno que aprende, mas também o professor adquiriu conhecimentos do aluno. Na vida estamos sempre a aprender! Todos!
O facto de a ponte surgir entre as duas bocas, como se fosse as línguas do aluno e do professor, é também bastante interessante visto que, para haver transmissão de conhecimentos, é necessário haver um meio de comunicação, a Língua Portuguesa, neste caso. Sob a ponte existe um rio e penso que, embora não esteja representado, o rio simboliza esse mesmo meio de comunicação, a Língua Portuguesa que, se não tiver margens, representadas no cartoon pelas duas pessoas, não existirá, pois não há quem a expresse, quem a use. E o rio leva as palavras, como os ‘navegadores’ quinhentistas, pelo mar fora, em busca de uma pátria universal. Terá toda a razão o Poeta… “ A minha pátria é a Língua Portuguesa”!
Gonçalo Soares Roque, 10ºE Nº11

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Professores que não morrem

O Dr. Sampaio
A estatura de uma Escola mede-se particularmente pela altura do valor científico -pedagógico e humano do seu corpo docente. Ora, “fama est” que a Escola Secundária Almeida Garrett cedo se impôs como espaço de ensino competente, de equilibrada exigência, e muito atento aos duros desafios da grande vida.
Pese embora o seu relativamente curto percurso, por ela passaram professores de indiscutível gabarito na docência e, alguns deles, são hoje destacados nomes nas artes plásticas e na literatura: romance e poesia. Interessante será que, em futuros espaços do nosso Jornal, se trate com alguma demora da obra desses professores - artistas.
Desta feita, cabe-me reunir um breve punhado de recordações de um professor que honrou a Escola: o Dr. José António Coelho Sampaio, tão cedo retirado ao nosso convívio.
Num tempo em que enxameiam entre nós tantos “Rabinos” que, esmurrando as abas dos seus chapéus contra o muro das lamentações, choram fracassos e tibiezas, é salutar que surjam fortes e objectivas referências humanas que incitem ao trabalho corajoso e à audácia saudável. E, nesta circunstância, invocamos, como exemplo a seguir, o Dr. Sampaio.
Oriundo de uma família numerosa da Beira, de modestos recursos económicos, subiu com coragem e esforço uma trilha íngreme que foi da instrução primária à licenciatura em Filologia – Românica, na Universidade de Coimbra.
Em jeito de aparte, afigura-se-nos justo referir a sua breve passagem pelo Seminário, uma escola que incutia nos seus alunos hábitos de disciplina e de trabalho que tornava quase fácil a continuação dos estudos liceais e universitários a quem não sentia o “chamamento evangélico”. Que o digam a Faculdade de Direito e a de Letras.
O percurso universitário do Dr. Sampaio foi interrompido pelo serviço militar, em Moçambique. Cumpriu-o, sem alguma vez invocar “os escrúpulos de consciência” que tanto jeito davam a quem era alérgico…ao cheiro da pólvora.
O tempo longo e doloroso do serviço militar, que tantos jovens universitários desmotivou, nada pôde contra a determinação do Sampaio. Voltou à Faculdade de Letras, aproveitando os curtos períodos de licença, para terminar, e com brilho, a sua licenciatura.
A minha admiração e amizade pelo Dr. Sampaio começaram no estágio, no Liceu D. Manuel II (hoje Rodrigues de Freitas, até que haja outra revolução…).
O cuidado na elaboração dos planos, sempre observados à rigorosa lupa dos metodólogos – Dr. Costa Marques e Dr. Adriano Teixeira, as suas aulas dinâmicas, vivas, alegres, parecendo incrivelmente fáceis, eram para todo o grupo (sete estagiários) modelos de pedagogia a seguir. Depois, já na Escola Almeida Garrett, o professor efectivo, Dr. Sampaio, foi o colega próximo de todos, sempre actualizado, assíduo, exigente, humano, que fez, com naturalidade, de cada elemento da família da Escola companheiros de caminho.
Quem teve por dever de ofício servir a Escola, na segunda metade da década de 1970, teve largo ensejo de entender “de visu et de auditu” o “Elogio da Loucura”, post Erasmo. Por mais de uma vez, pudemos testemunhar a intervenção decidida do Dr. Sampaio, junto de grupos ideologicamente extremados, com a sua palavra sensata, pertinente, apaziguadora. Com o Dr. Sampaio o diálogo era possível, porque era geneticamente democrata e, como Miguel Torga, não tinha certezas, tinha brumas.
São assim os homens superiores e inteligentes.
No seu Curriculum Vitae, conta-se ainda o cargo de metodólogo de francês. Recordo algumas dúvidas que nos punha quanto, por exemplo, às regências preposicionais, em francês, às vezes, tão bizarras. Recorríamos então à “compétence” do Dr. Agostinho Gomes (pai), dono de um sólido saber francês, adquirido nas suas andanças por leitorados gauleses.
Na sua rica carreira profissional, inscreve-se um efémero, mas saboroso episódio: o da Inspecção. Aposto que o Dr. Sampaio já o referiu, a rir, a Garrett que, volta e meia, lhe enche o ouvido com o seu enorme “Tratado da Educação”, ainda hoje de algum interesse. Uma vez, o Dr. Sampaio confidenciou-me a sua disposição para aceitar o cargo de Inspector. Conhecendo bem o professor que ele era, profetizei, à maneira de metáfora: caro amigo, as tuas asas arrebatam-te para voos altos, não para rasar mares de papeladas. Neste caso, era fácil ser profeta. O Dr. Sampaio, passado breve tempo, regressou ao Ensino, onde fazia muita falta com o seu lema que lhe morava na alma e que era (referindo-se aos alunos) “ o que importa é levá-los a gostar”. E a prova de que conseguia levar os alunos a gostar (a interessar-se) pelo que faziam está na edição manuscrita, ilustrada, de “Os Lusíadas”. Todos sabemos que o poema épico de Camões foi para muitas gerações um quebra-cabeças, e, não raras vezes, responsável por muitos RR. Ora o Dr. Sampaio soube despertar o gosto pela leitura do poema épico nos alunos de uma turma, a ponto de os levar com carinho e trabalho e arte a copiá-los, dando corpo a uma edição única, que se pode ver na Biblioteca da Escola.
Neste desfiar de recordações, adianto mais uma: a sua passagem pelo Centro Recreativo de Mafamude (Gaia), como Director. Os seus dotes de animador comunitário, já largamente espraiados na Escola inteira, subiram ao cume do brilho, quando comunicou com um vasto público de todas as condições sociais. Na nossa passagem pelo Coral do Centro, tivemos ocasião de escutar a opinião de muitos associados que, espontaneamente, referiam o seu natural modo de conviver, de ouvir e dar pareceres.
Disse alguém da velha Roma que “Já que não nos é dado viver por longo tempo, façamos algo que fique a atestar termos vivido”.
O Dr. Sampaio viveu pouco, mas nesse pouco legou-nos o que é tudo para a Escola portuguesa: profissionalismo, dedicação, empenhamento e o invejável modo de comunicar. Mereceu, assim, o breve tempo que os deuses lhe concederam.
Nós, os professores da Escola Almeida Garrett, mandamos daqui um forte abraço ao Dr. Sampaio que, por sua vez, nos recomendará ao nosso patrono ALMEIDA GARRETT.

Prof. ABEL MORAIS COUTO

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Poemas e Reflexões

Andei no faz de conta

Andei no faz de conta
Teu aprendiz
Mas na tua alma
Há algo que me diz
Andaste perdida
Agora te encontrei
Não há mais saída
Por onde eu entrei
Ninguém vê
Uma alma perdida
Um suspiro escondido
Um cego que vê
Ninguém sente
Uma cor quente
Uma luz reluzente
Algo que te faz vibrar
Nessa experiência aprendiz
Não há nada a explicar
Não há nada que se ouve
Não há algo para ditar
Nessa tua forma estática
Tens muito em que pensar


O Modelador

Guardo-me dentro de uma capa para ficar irreconhecível...Felicidade e mentiras protegem-me e o escultor molda a escultura gretando, ainda mais, as feridas da minha máscara. Porque é que brinca comigo enquanto que a sua obra-prima está inacabada? Porque é que esta sorte é tão injusta? Questões que um escultor se dispõe a passar à sua escultura. Podes ser o perfeito da perfeição, mas o sentimento fertilizante absorvido por ti impune o alfa. Cada criador cria a sua vida... Cada sonhador sonha a sua vida... Cada comum limita-se a vivê-la. A escultura fica guardada à espera de uma nova oportunidade enquanto que o vagabundo tenta reiniciar um novo amor à escultura. O vagabundo cala, consente as expectativas mal definidas e a escultura molda as consequências infelizes brincando com a sorte do comum. Vagabundo num só dia, Vagabundo no amor para a vida toda!


Consegues ouvir?

O amanhecer entardece
Como uma nuvem apazigua o luar
Ao convocar de loucura
E um enlace desfez-se
A persuasão desmorona-se
E o interlocutor não reage
Os lábios cerram
As mãos não sentem
O coração não bate
A luz divina seguiu
E num acto de demência
Se arrasta, pé ante pé
Para um vazio profundo


Imperceptível

Passava despercebida mas afinal a rapariguinha que todos achavam reconhecer
cresceu, tornou-se consciente, mais honesta e ténue. A vida tinha-lhe pregado uma partida, afinal o amor não era assim tão fácil como escreviam nos contos:” e viveram felizes para sempre”, tretas! Trocaram-me as voltas, mudaram-me o rumo e eu era capaz de saber o que era gostar, mas amar? Içar-me tão alto para a queda ser maior! E pensava eu, não haver mais capacidade para tombo tão brusco! O mundo desabou, o sonho que eu dizia ser a minha vida tinha-se tornado maçador.
As tardes mais frias e as noites mais encobertas! O assombro da afeição a Ele tinha se tornado um desejo pois era o principio da vida e ainda nada nos tinha acontecido!


Algazarra

Rasga os lençóis.
Rasga como se rasga uma notícia indesejada.
Ouve o eco do teu grito que retorna do vazio.
Maltrata a imagem do que pensavas ser ou foste.
Fecha janelas. Fecha portas.
Põem no chão o conteúdo de gavetas abertas.
Desarranja cada canto deste mundo.
Delira no desatino do desespero.
Esquece.
Obriga.
Entrega-te a uma outra mentira se preciso for, não te cales.
Mas, sobretudo, grita.


Inspira

Sem inspiração
Nada me consome
O sentimento que tende em me possuir
Repela-se
O magnetismo que se antecedeu
Perdeu a força
A liberdade que me mantinha presa
Rasgou-se
O sabor do vento
Deixo de cessar os meus cabelos
A pele não humedece
Os poros cerram e encrespam-se
Acabo mal as malas
Viajo sozinha
Falo com o consciente
Desabafo com o pensamento
Grito no silêncio
Desespero o destinado


Similarmente sensível

Quando choro
Choro porque quero
Ninguém me obriga
Quando abraço
Abraço porque amo
Não e fadiga
Quando exagero
E´ porque não vivo
Mas amigo?
Amigo eu sou
Não sou um fardo
Não quero ser
Sou o apoio de quem precisa
Não duvidem, vão ver
Não quero vingança
Nem desprezo
Sou aquilo que sabes
Sou aquilo que pensas
Não quero contraditórios
Já te tenho no coração
As lágrimas não são falsas
Tu foste uma desilusão

Confúcio 11ºA

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Apreciação Crítica da Série: “Conta-me Como Foi”

A série “Conta-me como foi” é uma adaptação da versão espanhola "Cuéntame cómo pasó" e é transmitida no horário nobre de Domingo na RTP1. Este retrato da vida de uma família portuguesa, da classe média no final da década de sessenta, é narrada pelo membro mais novo da família Marques Lopes: o jovem Carlitos. Ele conta cada episódio pelos seus olhos em criança, como suas memórias, sendo, por isso, a voz do narrador a de um homem adulto.
É desta forma que são narradas as peripécias desta família, ao mesmo tempo que se expõe a evolução de Portugal, a mentalidade portuguesa da altura e os medos e tabus desta sociedade. Através das aventuras das personagens é-nos dada uma imagem das mudanças que então se operavam no nosso país: quando a irmã do narrador viaja até Londres e quando, mais tarde, envereda por uma carreira de actriz no teatro; quando o irmão mais velho entra para a universidade; ou ainda quando a mãe de Carlitos decide começar um negócio de pronto-a-vestir. Tudo isto provoca reacções na família e no bairro onde vivem.
A utilização de imagens de arquivo e mesmo a adaptação de algumas à história (inserindo nelas os actores, colocando-os em situações que ocorreram na realidade, como por exemplo a queda de Salazar; aqui alguns dos protagonistas decidiram ir desejar-lhe as melhoras) ajuda a uma melhor identificação do tempo da acção, não só recorda o passado como também dá mais realismo a esta série, que não julga comportamentos e pensamentos, mas apenas relata, deixando-nos a nós, telespectadores, a oportunidade de reflectir sobre a História do nosso país.
Pena é que uma série de tão grande qualidade e com tal elenco tenha de pagar direitos de autor a criadores espanhóis. É caso para pensar se não haverá ideias a crescer neste rectângulo à beira mar plantado...
Tal como nós, a nossa vizinha Espanha passou também por uma época de ditadura. Séries como a aqui descrita abrem-nos uma janela para um tempo há muito terminado, num presente onde começamos a abrir alas paras as novidades do exterior, das quais, durante cerca de quarenta e oito anos, pouco ou nada entrou no nosso país.
Importante é não esquecer o que sofremos, nesta época, sem a Liberdade, tão corajosamente reconquistada num dia de Abril, para que não cometamos erros que nos façam perdê-la de novo.

Ana Inês Proença Pinto, nº2 - 10ºG

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O Caso Judaico II

O sonho do ‘judeu’… O sonho do ‘judeu’ era cumprir o vínculo, sem pensar como um humano. A vingança correu-lhe no sangue, e ele não viu mais nada à sua frente. Pobre António que, logo teve o azar de não conseguir pagar a dívida, dívida esta contraída por amizade… E foi a dívida que causou uma zanga entre Shylock e António, que já não tinham uma relação propriamente saudável… São coisas muito comuns… Pessoas diferentes, religiões diferentes, originam grandes conflitos, por mais ligeiro que seja o motivo, embora não fosse o caso!
Há que ter coração, assim como António teve para com o seu amigo Bassânio. Por que não podia Shylock ter também?! António mostrou-se amigo… Tão amigo que para possibilitar felicidade a Bassânio estava disposto a perder a vida. Shylock foi cruel… Não aceitou a proposta que António lhe fez, apenas lhe interessava matar António. É claro que eu estou contra Shylock. Durante toda a peça se viu que ele foi má pessoa. Tão má pessoa que, por isso, até sua filha perdeu. Era um homem duro, emprestava dinheiro e cobrava demais… Aí já se vê o quão interesseiro era. Só aceitou a proposta quando o feitiço se virou contra o feiticeiro, sendo a sua única hipótese converter-se, 'ser cristão'.
E aqui está a prova de que muita gente só vê o seu umbigo, e só aprende a ser tolerante quando se encontra em situações difíceis.

Nancy Silva, 10º E

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

O Caso Judaico

“O Mercador de Veneza”, peça de Shakespeare, retrata uma relação intemporal: os ‘judeus’ e os ‘cristãos’. Escrita numa altura de descriminação dos seguidores da fé judaica, tenta acentuar, às vezes de forma exagerada, preconceitos. E assim surge esta mecânica singular de António e Shylock.
António, homem de “bem” e cristão, comerciante e possuidor de uma relativamente pequena frota de navios de comércio, quase que inicia a história com um estereótipo da sociedade: o empréstimo de uma soma considerável de dinheiro a um judeu de grandes posses e, aparentemente, sem coração. O conflito estava traçado. Um desastre catapulta António para uma situação de que não se consegue desviar: a impossibilidade de realizar o pagamento da “mensalidade” exigida pelo ‘judeu’. Este por sua vez demanda justiça e recorre ao tribunal, exigindo o cumprimento do vínculo: meio quilo de carne do peito do ‘cristão’. Muitas pessoas interpretam isto como um acto de falta de humanidade e de compaixão, mas, na minha opinião, o ‘judeu’ apenas actua como par acção-reacção. É já de mera cultura geral que, desde as origens, estas duas ‘crenças’ se envolvem em conflitos constantes (o que se prova até após o tempo de Shakespeare), e tem de se ter em mente o quanto os da religião judaica sofriam nesta mesma época: eram expulsos das suas propriedades e das suas terras; não lhes eram permitidos quaisquer empregos de carácter vulgar (até que a única actividade possível fosse apenas a de emprestar dinheiro a juros); eram tratados como seres inferiores e até como ‘cães’ (como Shylock refere), … E quase como “cães raivosos” ficaram. O ‘judeu’, tendo em retrospectiva todos os momentos “negros” da história passada da sua “infame religião”, actuou com ódio, é um facto, mas com o ódio que os cristãos inspiraram num homem cujos tormentos ultrapassam limites físicos.
É quase evidente que a peça acaba com o tão necessário “amor cristão” ou a “perseverança do amor”, embora Shylock acabasse na miséria, perdendo a filha e a sua fortuna, sendo até obrigado a converter-se ao Cristianismo; isto devido à manipulação de factos jurídicos no mencionado julgamento. Toda esta situação só demonstra a falta de compaixão e piedade por parte dos cristãos de “boa fé”. E assim os conflitos prolongam-se até um futuro próximo. Porque não se pode pedir um coração a quem nunca o viu…

Gabriel António - nº9, 10E