quarta-feira, 3 de junho de 2009

‘’O Café’’ de Fassbinder

‘’O capitalismo aqui instaurado não serve para criar uma «sociedade feliz», uma sociedade em que se evolui para um bem-estar comum ou para o bem-estar de quem quer que seja. Apenas produz sobreviventes.’’

Nuno M.Cardoso


O capitalismo é, nesta peça, a substância unificadora da sociedade retratada. É conjuntamente matéria-prima e produto desta sociedade desinteressada, ou por outras palavras, interessada no desinteressante.
Diz o encenador que ‘’o capitalismo aqui instaurado não serve para criar uma «sociedade feliz», uma sociedade em que se evolui para um bem-estar comum ou para o bem-estar de quem quer que seja. Apenas produz sobreviventes.’’ É que esta massa unificadora tem também um alto poder revelador. Revela a natureza de quem nela se embrenha. Revela a sede por aquilo que falsamente enaltece o Homem. Revela a podridão da natureza humana. Revela a loucura e os vícios de quem, por tanto querer viver, acaba sobrevivendo, ou, se quisermos, subvivendo. Isto é, vivendo ao sabor das paradisíacas mas esbatidas promessas do dinheiro. E quando essas promessas ficam por cumprir aparecem os vícios, que para além de prometerem colorir a realidade trazida pelo dinheiro (ou falta dele), ainda prometem mais e melhor, levando as pessoas a viverem uma vida sem conteúdo, numa finíssima felicidade aparente.
O capitalismo é, então, o fio condutor deste Café; forçando as pessoas a seguir um caminho com auge na felicidade, caminho esse que se estreita infinitamente, não chegando a lado algum. Imaginemos agora a imensidade de pessoas que seguem estes caminhos todos paralelos, e veremos que a felicidade, esta nebulosa felicidade, é não conjunta, não partilhada, e, por isso, ainda mais esbatida.
Podemos dizer que o capitalismo de que esta sociedade se alimenta baseia-se na ilusão longínqua de que algo substancialmente bom se alcançará. Não se nota é que as pessoas já estão perdidas antes mesmo de começarem essa busca.

Inês Gonçalves, 11º E

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