segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Projecto Beatriz

Entra-se na sala. A peça rectangular no centro do palco chama imediatamente a atenção. É-se surpreendido pela nudez da sala. Não há cortinas, cabine de som ou bastidores. Há um palco e uma plateia, o essencial para uma encenação. Não terá muito mais de 200 lugares, a plateia, mas a massa humana que para lá se desloca garante que serão todos preenchidos. Mal nos sentamos, começamos a aperceber-nos da magnitude da peça. Sala cheia, faixa etária dos 14 aos 99 anos. As luzes vão, gradualmente, diminuindo de intensidade. A peça vai começar.
A primeira cena: um homem deitado na cama, primeira de muitas utilizações da peça rectangular com que nos deparamos, uma mulher que dele se aproxima. Há um crescendo de intimidade entre os dois, pontuado por sucessivas frustrações e desentendimentos destes, culminando na separação, marcada pelo “desmontar” da peça que inicialmente parecia sólida. Desenvolvem-se dois monólogos em simultâneo, que nos elucidam acerca do tema da peça: as diferenças e semelhanças entre a mulher e o homem.
A peça desenvolve-se a partir daí, composta por fragmentos, cenas soltas, que ilustram diferentes situações de diferença e semelhança entre os dois géneros (pois, segundo Freud, as diferenças entre os sexos são meramente físicas. O género, esse sim, marca as diferenças sociais e psicológicas, e é definido pelo papel de cada um dos sexos na sociedade), ligando temas como o racismo, a homossexualidade, a liberdade de expressão, a escolha de carreiras profissionais e os problemas matrimoniais, entre outros temas de actualidade inquestionável.
Toda a encenação, desde a lumino e sonoplastia até à cenografia e aos adereços, é de uma qualidade inimaginável para um grupo de alunos (apenas os actores eram profissionais), ainda que de uma escola de artes performativas, e a qualidade de tudo isto chega a ultrapassar os padrões profissionais. A representação é excelente, apesar de se notarem as falhas, naturais, decorrentes do facto de se tratar de uma peça inédita, escrita por uma aluna, e de se tratar de uma estreia. Há, de facto, arestas a limar, mas a prática decorrente das sucessivas repetições da encenação tratará de o fazer.
Em suma, Projecto Beatriz, um nome a reter, e uma peça que recomendamos a qualquer pessoa.

Pedro Barbieri, Joana Ribeir e André Oliveira - 12ºC
Joana Gomes - 12ºB

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