segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Visita de estudo à Quinta da Regaleira (28 de Outubro de 2009)

Introdução

• A Quinta da Regaleira encontra-se situada no centro histórico de Sintra e está classificada como Património Mundial da UNESCO.
• O início da sua construção deu-se no século XX e partiu de um projecto pensado ao pormenor, onde foi implementado um famoso conjunto de criações artísticas que transmitem uma mensagem implícita nas suas construções e na exuberância da sua arquitectura.
• Para além do património edificado, a Quinta da Regaleira contém uma componente paisagística e natural extremamente apelativa graças à sua moldura de verde impressionante composta pelos seus jardins e bosques.
• No seu património vasto e bastante rico encontramos o imponente e enigmático poço iniciático, grutas subterrâneas e vários lagos.
• A riqueza e a mistura de estilos prevalecem nas construções, permitindo ao visitante ter contacto directo com a arquitectura de estilo Neo-Manuelino e traços Neo-Góticos.
• As correntes estéticas e filosóficas encontram-se patentes e evidenciam o espírito dos seus construtores e proprietário, Carvalho Monteiro (o milionário), que compraram a Quinta à Baronesa da Regaleira.
• António Augusto Carvalho Monteiro nasceu no Rio de Janeiro em 1848, filho de pais portugueses que cedo o trouxeram para Portugal. Herdeiro de uma grande fortuna familiar gerada no Brasil pelo comércio dos cafés e diamantes. Desta forma gastou avultadas somas a dar forma à sua fantasia.
• Alguns dos interesses de Carvalho Monteiro baseavam-se na sua paixão pelos livros, pelos instrumentos musicais, pelo estudo das borboletas e pelas conchas.
• Empenhado em construir a sua mansão filosofal, o proprietário da quinta convidou o arquitecto Luigi Manini, conceituado cenógrafo, arquitecto e pintor adepto do estilo romântico.
• A Quinta da Regaleira deixa entender a nostalgia de um paraíso perdido composto de lembranças e conhecimentos dispersos que remontam à epopeia dos descobrimentos e à imagem duradoura desse período. O culto do revivido e a exaltação do exótico, do sobrenatural e da presença divina, incluindo o “Mito do Quinto Império” e o “espírito dos templários”, é mais do que evidente em toda a propriedade.
• No conjunto da Regaleira existem traços nítidos das ideias políticas (devoção pela monarquia) e religiosas (paganismo e cristianismo).
• Em 1946 a Quinta da Regaleira é adquirida por Waldemar Jara d’Orey, que introduziu várias modificações a seu gosto.
• Em 1987 a propriedade é vendida à empresa Japonesa Aoki Corporation.
• Em 1997 a Câmara Municipal de Sintra toma posse.



Locais emblemáticos visitados e o seu contexto

Palácio – O seu interior transmite-nos um ambiente intimista e acolhedor, proporcionado pela abundância de ornamentos em madeira de carvalho e castanho e pelas portas de cor púrpura e de madeira com acabamentos em metal. Nos tectos extremamente elaborados e trabalhados em madeiras exóticas, sobressaem figuras de dimensões avultadas.
Na Sala dos Reis, no friso superior encontram-se pintados os monarcas Portugueses, criteriosamente seleccionados, desde D. Afonso Henriques a D. João V, o último Rei do projecto imperial Lusitano, excluindo, obviamente, a dinastia dos Filipes. A disposição destes monarcas baseia-se na sua ordem cronológica, tendo merecido especial atenção a localização do nascer e do pôr do Sol, que ilustra o “período de ouro” do Império Português e está associado à crença no Sebastianismo e no “Quinto Império”. O pôr-do-sol simboliza a necessidade de “matar” o Império corrupto existente até então, descendo aos “Infernos”, para em seguida dar lugar ao nascimento de um novo Império Cultural.

Capela da Santíssima Trindade – Segue a linha decorativa que reveste o palácio. Em termos sagrados a sua orientação é perfeita: a entrada a Ocidente e altar-mor para Oriente. Possui uma fachada brilhantemente trabalhada e cheia de simbologia. O pavimento encontra-se coberto de mosaico, encontra-se uma grande variedade de cruzes, umas de Cristo, outras templárias. A Capela contém uma cripta, lugar propício à meditação.
A presença de um grande número de cruzes templárias encontra-se também associada ao objectivo primário dos descobrimentos Portugueses: a expansão de um Império Cultural baseado no Cristianismo. No entanto, devido à corrupção, que se encontra presente em todos os Homens, este acabou por se desenvolver segundo uma ideologia distinta, a criação de um Império Material. Estabelece-se então uma relação com uma pintura ilustrativa do sermão de Santo António aos peixes, que também tem como temática a corrupção do Homem.
Logo à entrada da Capela, no tecto, surge um “delta luminoso” que nos sugere a inspiração maçónico-templária.

Os Jardins – São um lugar de fantasia e recolhimento. Tratando-se de um parque de influência romântica, é evidente a mistura de plantas e árvores trazidas das mais variadas partes do globo.
O passeio pelo jardim traduz-se num caminho de ascensão, numa crescente depuração dos lugares, numa subida imaterial rodeada da mais pura vegetação, que se vai tornando espontânea e desordenada à medida que alcançamos o topo, pretendendo reforçar o efeito de primitivismo, como se o homem moderno tivesse necessidade de regressar ao passado “rural”.
Durante o percurso do jardim encontram-se estátuas que simbolizam: o poder, onde se destaca o elevado número de leões; a procura do interior, onde se destaca a presença de búzios e conchas; e a relevância dos seres mitológicos, entre os quais nove Deuses, que representam as virtudes e características do povo, nomeadamente o Português.

Poço Iniciático – Todos os caminhos podem conduzir a uma aparente anta. E eis que uma curiosa porta de pedra roda impulsionada por um mecanismo oculto e nos faculta a entrada para outro mundo.
É o monumental poço, espécie de torre invertida que mergulha nas profundezas da terra. De 15 em 15 degraus se descem os 9 patamares desta imensa galeria em espiral, sustentada por inúmeras colunas de apurado trabalho, que vão marcando o ritmo das escadarias. Gravada em embutidos de mármore, sobressai uma cruz templária/rosa-dos-ventos, que nos orienta para a saída.
As galerias conduzem-nos, em autênticos labirintos, pelo mundo subterrâneo. Estas elegem os que utilizam o raciocínio e o intelecto em detriorimento da força física.
A saída dos túneis é feita através de uma travessia, de pedra em pedra, sobre um lago, representando a necessidade de caminhar sobre a água, água esta que é um dos elementos fundamentais na concepção recreativa e simbólica dos jardins. É fonte de vida, de fertilidade e de abundância. A água foi sempre entendida como sinal da graça divina e purificação do homem.



Pessoa e a Quinta da Regaleira

• “Carvalho Monteiro expressa em pedra a mensagem que Pessoa expressa nos seus poemas.”
• Pessoa escreveu cerca de 45 poemas relacionados com a Quinta da Regaleira.
• O Esoterismo presente na Capela da Santíssima Trindade marca também a poesia de Fernando Pessoa, que possuía um elevado interesse, obsessão até, pelo auto-conhecimento.
• Tanto os búzios como o Poço Iniciático são caracterizados por possuírem nove plataformas, número que, tal como na poesia de Pessoa, simbolizam os nove anéis do Inferno de Dante e os nove meses de gestação, representando a passagem por uma fase de formação/recriação, também representada pelos quinze degraus entre cada plataforma, sendo o número três o que representa o ciclo da vida e o cinco o que representa a dúvida.
• Se Fernando Pessoa conhecia a Regaleira, sobretudo a sua dimensão simbólica e mítica, não poderia deixar de a considerar como uma Estalagem do Assombro, como disse no poema Iniciação.



INICIAÇÃO - FERNANDO PESSOA


Não dormes sob os ciprestes,
Pois não há sono no mundo.

O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo.
Vem a noite, que é a morte,
E a sombra acabou sem ser.
Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.
Mas na Estalagem do Assombro
Tiram-te os Anjos a capa:
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.
Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nu.
Não tens vestes, não tens nada:
Tens só teu corpo, que és tu.
Por fim, na funda caverna,
Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais.

A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na Sorte.
Não estás morto, entre ciprestes
Neófito, não há morte.

Gabriel Gonzaga e Hugo Machado, 12ºH

1 comentário:

Anónimo disse...

magnífico trabalho feito.