segunda-feira, 29 de março de 2010

O Avarento


A Personagem de Harpagão
Harpagão é um viúvo rico que revela uma ganância extrema relativamente a tudo que possa directa ou indirectamente estar relacionado com dinheiro. Como tal, aliado à peça “O Breve Sumário…”, conclui-se que esta personagem só pode traduzir um sentimento de tragédia ao exibir uma dependência e até regência pelo dinheiro. Substitui assim os cinco sentidos pelas suas posses materiais. Desrespeita os seus filhos e as suas opiniões, os seus sonhos e os seus desejos.
Durante a exibição da peça, é normal que os espectadores se riam, mas é um riso proveniente da sátira que está a ser representada. As hipérboles verbais, sentimentais e gestuais compõem e criam um mundo em tudo idêntico àquele em que se vive actualmente, e em que sempre se viveu.
Com uma forte semelhança a peças como a “Auto da Barca do Inferno”, Molière instala a crítica através do riso; mas, através da introspectiva desse riso, o choro, pelo facto do mundo não ser mais, por sermos limitados por outras coisas e não pelo próprio limite. Nós continuámos o pecado original, somos a sua extensão.
Entre um Cenário e outro…
Na peça de Gil Vicente, a sua associação com o mundo está realizada através do cenário que tenta agarrar e abanar um pouco da sensação de luto pela condição humana perdida, pois nós já abandonamos tal ingenuidade há muito tempo, sabemos o que o Homem pode fazer. E com esta mensagem repintam-se as acções do Homem, põe-se um letreiro que indica “pintado de fresco” e fazem-se umas promessas ou uns tratados em papel. E aí entra a peça de Molière; com um aspecto muito mais “terreno” e uma conclusão bem definida, ilumina as pessoas e ensina, exemplifica com a crítica o que se deve fazer e como se deve ser em sociedade. O seu cenário, aparentemente simples, permite juízos mais perto do absoluto, contornando dificuldades como a existência de Deus.
A peça “O Avarento” cumpre a sua função, e nós, cumprimos a nossa? E, se tivéssemos esta ‘fortuna’, seriamos diferentes de Harpagão?

Gabriel António, nº8, 11ºE

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