quarta-feira, 22 de abril de 2009

A Minha Vida


Comandante Chuchinha, permita-me que faça este relatório de uma forma pouco usual e nada formal.
Nos últimos minutos, os pensamentos que passam pela minha cabeça são variados, desde “Ai a minha vida…” e “Onde é que eu me fui meter? …” a “Terei deixado o ferro de engomar ligado?” ou “Onde é que é a casa de banho?” e “ Será que esta fralda me faz parecer mais gordo?”…
A resposta a esta última pergunta é sim, esta fralda mostra todos os meus pneus e gordurinhas localizadas, mas não é sobre isso que eu lhe escrevo, Comandante Chuchinha. A minha vida ainda é curta, é verdade, ou muito curta, como alguns poderão dizer, mas estas minhas duas horas de existência já me permitem que faça uma retrospectiva ao que já me aconteceu nos meus cento e vinte minutos desde que cheguei, perdão, cento e vinte e um minutos desde a minha chegada.
Desde já devo dizer que foram muito brutos e rudes comigo logo desde o momento da minha chegada. Havia-me eu esfalfado todo para sair de dentro da cápsula de viagem, que devido a algum problema havia sofrido danos os quais levaram ao rompimento desta e à minha saída, e estava ainda coberto de uma gelatina viscosa sem ver um palmo à frente dos meus olhos e já eles, o povo residente, me estavam a apalpar o rabo, apalpar, não, estavam a bater-me no rabo, embora fosse mais adequado dizer espancar, e, não contentes com isso, pegaram em mim e meteram-me numa bacia cheia de água fria para que eu abrisse a boca. A água estava tão fria que até um pinguim era capaz de apanhar uma constipação! Imagino que seja das piores torturas que possuem, se não mesmo a pior, e, meu comandante, tendo-me visto nesta situação, embora prometesse não o fazer, vi-me obrigado a abrir a boca, dei com a língua nos dentes, pus a boca no trombone, e comecei aos berros dando-lhes informações a fim de me tirarem daquela tortura. Não era minha intenção dá-las mas teve de ser, comandante Chuchinha.
De seguida, estando eu ainda berrando pelo choque de tamanha brutalidade, já alguém estava a pegar em mim e a passar-me dos braços de pessoa em pessoa! Eu bem disse que não era nem uma bola para me andarem a passar entre eles, nem um gatinho para eles andarem a fazer festinhas, mas eles aparentavam não entender, pareciam falar uma língua indígena qualquer, devem ter pouca inteligência, coitados…
Depois levaram-me para o local onde estou desde há cerca de hora e meia, preso nesta caixa feita de um material transparente com pequenos tubos, buraquinhos, e outras coisas. Eu vejo-os do lado de foram a olhar para mim como se fosse algo nunca antes visto, eles olham para mim acenam e sorriem, mostrando aqueles grandes dentes e, devido a tais comportamentos, penso que ou me irão comer ou dissecar. Estou a tentar preparar-me para o que me possa esperar a seguir – até berraria por ajuda! –, mas devem ter colocado alguma coisa no ar pois eu sinto-me cada vez mais sonolento e, como não sei o que me pode acontecer, escrevo este documento e, se de tal tiver oportunidade, um diário para ser relembrado como um herói entre o meu povo e para este saber a minha história, a história daquele que se aventurou no mundo dos crescidos.
Alfredo Bebé


Pedro Lopes, nº 17 do 11º B

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