terça-feira, 28 de abril de 2009

"O Café" de Fassbinder

“O capitalismo aqui instaurado não serve para criar uma “sociedade feliz”, uma sociedade em que se evolui para um bem-estar comum ou para o bem-estar de quem seja. Apenas produz sobreviventes.”

Nuno Cardoso

É difícil não concordar com a afirmação de Nuno Cardoso de que o capitalismo demonstrado na peça não funciona para o bem da sociedade. Na realidade, creio que é o tipo de capitalismo associado ao lado escuro da civilização, em que só os mais corruptos e perversos sobrevivem e lucram, passando por cima dos rivais.
Tomemos o exemplo do jogo e da prostituição, que estão sempre presentes ao longo da peça. São encaradas como maneiras sujas de se viver e, tal como é afirmado na frase, embora não tragam felicidade a ninguém, sendo, pelo contrário, criadores de conflitos, são formas de capitalizar de modo fácil e avultado, parecendo que as personagens, à medida que se aproximam desse mundo se sentem cada vez mais atraídas por ele, não se conseguindo libertar. O criado Trappolo, na sua bondade, ou talvez por lhe fazer recordar o seu passado, cai no erro de emprestar dinheiro ao jovem Eugénio, um viciado no jogo, mas este aproveita-se da sua generosidade e volta a cair nas malhas do vício. À medida que a peça se desenrola, as personagens caem numa teia complexa de intrigas e esquemas, associados à corrupção e ao dinheiro, enfim, à vida desonesta, vendo-se cada vez mais enredadas nos males da sociedade. Mesmo os mais puros, como Vittoria, acabam por ser seduzidos por esse tipo de vida, acabando, cada um à sua maneira, por encontrar um modo de levar a cabo as suas intenções e de sobreviver.
Para finalizar retomo a citação. Perante todas as tramas e manhas a que assistimos em “O Café” de Fassbinder, podemos seguramente concluir que o capitalismo aqui caricaturado não serve para atingir a felicidade. Cada um se aproveita do próximo, adapta-se e explora-o quanto puder e, se tiver a audácia suficiente para sobreviver, não se importa de eliminar alguns obstáculos pelo caminho.

Daniel José Marques Nora, Nº 10; 11º D

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