quinta-feira, 22 de maio de 2008

Ao longo do tempo e contra o tempo

Bernini, Plutão Raptando Proserpina, 1622


"O que é essencial numa autêntica cultura é uma certa maneira de conjugar as relações entre o tempo e a morte individual.
A força da vontade que engendra a arte e o pensamento desinteressado, a resposta empenhada que, só ela, é capaz de transmitir a arte e o pensamento a outros seres humanos, ao futuro, enraízam-se numa aposta na transcendência. O escritor ou pensador visa que as palavras do poema, as linhas da argumentação, as personagens do drama, sobrevivam à sua própria morte, participem do mistério de uma presença e de um presente autónomos. O escultor confia à pedra a energia vital, ao longo do tempo e contra o tempo, que em breve abandonará as suas mãos de carne.
A arte e o espírito dirigem-se aos que ainda não existem, ainda que sob o risco, um risco deliberadamente assumido, de não serem reconhecidos pelos vivos."

George Steiner,
No Castelo do Barba Azul, Algumas Notas para a Redefinição de Cultura, Relógio de Água, Lisboa, 1992

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