quinta-feira, 21 de maio de 2009

A Exploração Infantil

“ Agredidos, famintos, explorados em milhões de ateliers e fábricas, recrutados por grupos armados, encerrados em bordéis – as crianças são mais espezinhadas do que nunca num mundo que, no entanto, não pára de se maravilhar com o seu próprio progresso …”
É um facto que o trabalho infantil não é, de modo algum, uma invenção do mundo moderno. Na antiguidade, na Idade Média, nos séculos XVII e XVIII, as crianças trabalhavam arduamente nas sociedades rurais do Ocidente bem como no resto do mundo. A exploração infantil atingiu o seu auge no século XIX, na Europa, com condições de trabalho que podemos ainda hoje encontrar em alguns países do Terceiro mundo.
Quantas crianças existirão nestas condições hoje em dia?
Os tempos que correm trazem-nos um paradoxo assombroso: por um lado a criança é maltratada por todo o planeta como nunca o fora antes; por outro lado os seus direitos nunca foram tão abertamente afirmados.
É uma missão impossível concretizar o número de crianças que vivem esta situação, pois uma grande quantidade esconde-se sob o véu da clandestinidade. No entanto os números publicados actualmente pelo Gabinete Internacional do Trabalho e pela UNICEF apontam para cerca de 250 milhões de crianças a trabalhar por todo o mundo, as mais jovens das quais com menos de 5 anos de idade.
Até os países socialmente mais “avançados”, como os Países Baixos ou a Dinamarca, assistiram à reaparição deste fenómeno.
Dos Estados Unidos, onde as infracções à legislação sobre o trabalho infantil aumentaram 25%, até ao Terceiro Mundo, o flagelo continua de uma forma que parece inexorável. Índia, Bangladesh e Paquistão batem os recordes absolutos. Na Índia, o sistema de castas torna o trabalho infantil socialmente aceitável.
O continente Africano não lhe fica atrás, onde uma em cada três crianças trabalha. Na América Latina, uma em cada cinco crianças … serão precisos mais números?
Até quando os valores economicistas irão sobrepor-se aos da saúde e felicidade das nossas crianças?
Estes pequenos obreiros que tudo fabricam, de tapetes a explosivos, de sapatos a tijolos, durante dez e mais horas por dia, sob luzes artificiais e temperaturas elevadíssimas (no fabrico do vidro, por exemplo).
Isto é ainda mais triste e desolador quando somos confrontados com a indústria de recuperação de resíduos, com as imensas lixeiras a céu aberto como nas Filipinas, onde, nas proximidades de Manila, milhares de crianças se afadigam naquilo que é conhecido como a “montanha fumegante”. Crianças desprotegidas face a doenças como o tétano, doenças dermatológicas e infecções parasitárias.
Quem lhes devolverá o seu amor-próprio após meses e anos dessa actividade onde eles se confundem com os desperdícios, os detritos, o lixo que uma sociedade desigual e violenta lhes destina como forma de vida?
Nos Emirados Árabes Unidos existe um espectáculo proporcionado por corridas de camelos, cujos jóqueis são crianças amarradas ao dorso dos animais que, incitados pelos gritos de pânico das crianças jóqueis, correrão muito mais. No entanto entre as corridas estas crianças executam trabalhos domésticos em casas, para não se tornarem demasiado dispendiosas.
De acordo com a Defesa Internacional da Criança, em cada ano que passa são levadas ou compradas seis mil crianças no Paquistão e cinco mil no Bangladesh para servir no Golfo Pérsico. Algo de muito semelhante acontece às crianças que servem de “petites bonnes” em toda a África Ocidental, onde as famílias rurais colocam as suas filhas, as mais jovens, com cerca de 5 anos de idade, em casa de “parentes” estabelecidos na cidade, a troco de dinheiro. A criança nada recebe e faz todo o tipo de trabalhos domésticos, inclusivamente serviços sexuais. Ao chegar à adolescência a petite bonne será reenviada, muitas vezes grávida, para a sua aldeia ou abandonada em barracas miseráveis, que elas próprias pagam com a prática ocasional da prostituição.
É esta a infância de muitos milhares de crianças da Guiné até Dakar.
A saída para muitas destas crianças é a rua, onde fugindo do jugo do empregador-explorador, caem nas mãos dos gangs, das drogas e da delinquência. Dormem nos passeios, sujas e assustadas e sobreviver é a sua palavra de ordem: no Rio de Janeiro são assassinadas, em média, três meninos da rua por dia.
Este fenómeno insere-se num outro mais abrangente que a economia global traz consigo: a competitividade, a mão-de-obra barata, a ausência de um Estado Social que proteja os mais frágeis e indefesos … a desvalorização de Escolarização. No Terceiro Mundo um terço das crianças que começam a frequentar o ensino primário acabam por abandoná-lo a meio.
Perante isto, que fazer?
Sabotar a venda/compra de produtos fabricados por crianças? Também esta medida teve efeitos negativos, nomeadamente em países cuja exportação vive desses produtos, pois imediatamente levou para a rua milhares desses pequenos operários.
É imperativo fazer cumprir os muitos textos legislativos que proíbem o trabalho infantil. É urgente fazer respeitar a Convenção Internacional dos Direitos da Criança, não só nas empresas como no seio da própria família. É preciso negociar a escolarização de todas as crianças que trabalham e que se vêem excluídas dum desenvolvimento físico e mental normal e que correm perigo de vida em trabalhos que envolvem força bruta, escravidão e prostituição.
Será utópico chamar a atenção do mundo para todas as formas de aniquilação da infância? Devemos pactuar com um mundo que devora as suas crianças?

A nós parece-nos que a ideia fundamental a defender é a de que a criança é um valor único, não é uma simples preparação para a vida: ela é a própria vida.
Como diz Gabriela Mistral: “A criança não pode esperar, o seu nome é Hoje”.
Bibliografia: “Um mundo que devora as suas crianças” – Claire Brisse

Marta Sofia, 11ºB, nº16

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