quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Ventos




Pente dos Ventos, San Sebastian

Eduardo Chillida, arquitecto de vazios e poeta da luz, opera uma síntese entre arquitectura e escultura, duas artes criadoras de espaços tridimensionais. Protagonista duma site-specific sculpture em que o relacionamento das peças com o lugar transformam o espaço envolvente em parte integrante da obra. Não se limita a pôr a obra no espaço mas, ao torná-lo vivenciável, convoca também o próprio espectador, que passa a integrar e a experimentar a trama de tempo e de espaço em que a escultura se transformou.

Mais do que uma arte relacionada com a distribuição de objectos no espaço [Lessing] a escultura contemporânea obriga-nos a falar cada vez mais de tempo, devido aos apelos à consciência que o observador tem do seu próprio tempo ao vivenciar a obra [Krauss]. Daí a implícita experiência temporal que a escultura de Chillida oferece, assegurando deste modo uma forte ligação à poesia.

Chillida usa, pois, o espaço como material primordial, dando-lhe forma através do trabalho sobre a matéria. Processo que, pela subtracção de matéria, define espaço, ao operar cortes, abrir ocos, perfurar. Introduz luz na matéria, carregando a escultura de energia. Uma luz que passa a brotar de dentro da própria escultura. O espaço vazio materializa-se, assim, numa força que complementa a matéria e é tão corporal como ela, desdobrando-se em ritmos de uma música silenciosa.
O vácuo primordial recipiente do universo, o silêncio esperando o som.
Também a luz, material intangível, é usada por Chillida para definir volumes negativos e, como elemento da escultura, torna-se também um componente do tempo, um tempo que nos toca e que não conseguimos agarrar.

Diálogo de opostos, as suas obras materializam o imaterial, provam a existência do vazio através do trabalho da matéria, numa atitude paradoxal e ambivalente. Afirma pela negação, lembrando o vazio interno do vaso, que é a sua razão de ser, e o vazio habitável da casa.
É assim, entre luz e sombra, espaço e tempo, matéria e vazio, que se ergue a arte de Eduardo Chillida.

O Pente dos Ventos, em San Sebastian evoca um lugar arcaico onde a acção artística sobre os elementos da natureza demanda a fusão entre o material e o espiritual, abrindo novos horizontes.
Além da Forma e da Imagem existe também o Som. Esta é, também, uma escultura sonora. Podemos mesmo dizer uma instalação sonora, em que o som se materializa de forma consciente. Incorporado na obra que o produziu participa, também, no discurso plástico.

Chillida projectou, em colaboração com o músico Luis de Pablo, para a superfície da plataforma do Peine de los Vientos, sete perfurações, através das quais o mar, devido à força com que entra por baixo, cria uma pressão no ar que, ao sair por cada um dos sete orifícios, produz sons correspondentes às sete notas musicais.

Formas e sons que amam o longe e a distância fazendo mais um Elogio ao Horizonte, como o que realizou em Gijon, onde Chillida criou um magnificat que põe a imensidão do oceano e do firmamento diante do espectador.
O homem é a medida e vê com o corpo todo. A escultura oferece uma escala, um micro espaço para enfrentar e abraçar o horizonte, o limite do nosso olhar.
A. F. Silva




Elogio ao Horizonte, Gigon

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