quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Apreciação Crítica da Série: “Conta-me Como Foi”

A série “Conta-me como foi” é uma adaptação da versão espanhola "Cuéntame cómo pasó" e é transmitida no horário nobre de Domingo na RTP1. Este retrato da vida de uma família portuguesa, da classe média no final da década de sessenta, é narrada pelo membro mais novo da família Marques Lopes: o jovem Carlitos. Ele conta cada episódio pelos seus olhos em criança, como suas memórias, sendo, por isso, a voz do narrador a de um homem adulto.
É desta forma que são narradas as peripécias desta família, ao mesmo tempo que se expõe a evolução de Portugal, a mentalidade portuguesa da altura e os medos e tabus desta sociedade. Através das aventuras das personagens é-nos dada uma imagem das mudanças que então se operavam no nosso país: quando a irmã do narrador viaja até Londres e quando, mais tarde, envereda por uma carreira de actriz no teatro; quando o irmão mais velho entra para a universidade; ou ainda quando a mãe de Carlitos decide começar um negócio de pronto-a-vestir. Tudo isto provoca reacções na família e no bairro onde vivem.
A utilização de imagens de arquivo e mesmo a adaptação de algumas à história (inserindo nelas os actores, colocando-os em situações que ocorreram na realidade, como por exemplo a queda de Salazar; aqui alguns dos protagonistas decidiram ir desejar-lhe as melhoras) ajuda a uma melhor identificação do tempo da acção, não só recorda o passado como também dá mais realismo a esta série, que não julga comportamentos e pensamentos, mas apenas relata, deixando-nos a nós, telespectadores, a oportunidade de reflectir sobre a História do nosso país.
Pena é que uma série de tão grande qualidade e com tal elenco tenha de pagar direitos de autor a criadores espanhóis. É caso para pensar se não haverá ideias a crescer neste rectângulo à beira mar plantado...
Tal como nós, a nossa vizinha Espanha passou também por uma época de ditadura. Séries como a aqui descrita abrem-nos uma janela para um tempo há muito terminado, num presente onde começamos a abrir alas paras as novidades do exterior, das quais, durante cerca de quarenta e oito anos, pouco ou nada entrou no nosso país.
Importante é não esquecer o que sofremos, nesta época, sem a Liberdade, tão corajosamente reconquistada num dia de Abril, para que não cometamos erros que nos façam perdê-la de novo.

Ana Inês Proença Pinto, nº2 - 10ºG

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