terça-feira, 27 de janeiro de 2009

“Porto Barroco”

Deixando a Estação de São Bento, a turma sobe em fila indiana (ou quase) até à Igreja de Santa Clara. Chegando a uma praça, mesmo em frente ao mosteiro, pudemos observar o Convento de Santa Clara, adjacente à Igreja, que foi, em parte, convertido nas instalações da PSP do Aljube. Passando por uma abertura em arco, encontrámo-nos à entrada do Convento e da Igreja. Aqui pudemos identificar traços da arquitectura gótica, como o arco ogival, situado sob as portadas da Igreja, e do barroco, com as colunas em espiral e algumas figuras de santos. A fachada em pedra é fria e mostra marcas do tempo, sendo que a impressão à entrada não é muito acolhedora. Ao deslocarmo-nos para o interior da Igreja, a sensação é bem diferente.
Sentado num dos bancos anteriores, pude observar a nave de uma ponta à outra e ficar com uma impressão geral da estrutura da Igreja. A primeira percepção é que a luz é mais abundante no altar-mor, o que, naturalmente, é o efeito pretendido, mas vou começar por uma observação mais geral. A Igreja de Santa Clara é alta e longa, mas, sobretudo, exuberantemente decorada. O tecto apresenta uma série de arcos consecutivos, bem trabalhados, que se intersectam aos pares em largas circunferências ornamentadas. Logo abaixo das janelas rodeadas por arcos, encontram-se, a um nível elevado e inacessível do interior, os locais próprios para as clarissas assistirem à missa, uma espécie de varandas cobertas por um gradeamento, sem grande decoração, claro, pois o objectivo aqui não era chamar a atenção dos fiéis. Abaixo encontram-se as sanefas, uma espécie de cortinado ornamentado que se dispõe ao longo da nave. Enquadradas lateralmente no corpo da Igreja, por baixo das sanefas, como se de uma montra ou peça de teatro se tratasse, estão os vários retábulos, de um detalhe verdadeiramente impressionante. Neles nenhum pequeno espaço é deixado vazio, contendo uma exuberância inexplicável, com arcos e colunas em espiral revestidas por imensas figuras de santos, estatuetas e outros ornamentos que se integram e combinam com graça e nos fazem, de certa forma, contemplar o poderio da Igreja na época do Barroco, reforma à qual a Igreja de Santa Clara foi sujeita na primeira metade do século XVIII, sendo inteiramente revestida por talha dourada, entre outras novas ornamentações, embora o final da sua construção já datasse do século XV. Resta referir o altar-mor, também muito trabalhado, que parece sobressair e luzir com maior intensidade. No seu retábulo encontra-se uma obra de arte barroca, que, segundo pesquisei, é autoria do pintor e escultor portuense Joaquim Rafael. Ao lado do altar-mor encontram-se as figuras de São Francisco e Santa Clara, a última retratada a segurar o cálice com o qual, diz a lenda, terá afastado os soldados invasores. Para concluir, quero apenas dizer que fiquei com uma óptima impressão desta Igreja, espantosamente rica e trabalhada, bem demonstrativa da forma de arte Barroca e ao mesmo tempo bastante acolhedora.
Uma vez de saída, a turma iniciou uma caminhada até à Igreja de São Francisco. A sua aparência exterior é bem mais impressionante do que a da Igreja de Santa Clara, com um grande vitral circular, a estátua de São Francisco de Assis e o símbolo da Ordem dos Franciscanos.
Passando uma entrada remodelada, onde são vendidas lembranças, demos entrada na Igreja. Talvez devido à orientação que o guia decidiu tomar, não fiquei logo com uma perspectiva geral desta, mas posso desde já apontar que é muito maior, ou seja, muito mais alta, larga e comprida do que a Igreja de Santa Clara. Por toda a Igreja estão dispostos retábulos imensamente trabalhados, com imensas estatuetas, à semelhança dos da outra Igreja mas com bem maiores dimensões e expressividade. De salientar, a árvore genealógica da família de Jesus, a Árvore de Jessé, sob a figura deitada da Virgem Maria, assim como capelas dedicadas a quatro (outrora) importantes famílias da cidade do Porto, umas mais trabalhadas que outras. Por falar em famílias importantes, é de notar que em redor da Igreja se encontram, embutidas no solo, sepulturas cobertas em madeira pertencentes não só a frades mas também a indivíduos de famílias importantes que preferiram continuar destacados (do comum cemitério, neste caso) depois da morte, permanecendo em lugar sagrado. Sobressai, numa das capelas que honram estas famílias, um portão em talha dourada com uma geometria cheia de curvas e contra-curvas, conforme indicado pelo guia. Interessante também é a nave central, rodeada por espectaculares colunas barrocas, sob um harmonioso tecto em frente ao imponente altar-mor, extremamente trabalhado em todos os aspectos, com várias figuras de santos franciscanos, colunas em espiral e uma série de bases em pirâmide que terminam na figura crucificada de Cristo. Toda a Igreja é, aliás, muitíssimo trabalhada, em que todos os elementos conjugados se transformam num autêntico encanto para a vista.
Gostava de referir que provavelmente teria apreciado melhor a Igreja sem a intervenção do guia (embora este fosse importante para ficarmos a saber da história da Igreja e do significado de algumas obras de arte) porque me parece que este percorreu todos os elementos de uma forma muito particular, sem nos deixar contemplar, com o tempo que fosse preciso, todo a magnífica estrutura no geral. Ainda assim, fiquei obviamente impressionado com toda a grandiosidade da Igreja de São Francisco, que é ainda mais interessante que a de Santa Clara, na minha opinião. Para mim, a visita não podia ter valido mais a pena, porque não sabia até que ponto podia ir o detalhe e deslumbramento da criação do Barroco, os quais, após visitar estas duas grandes Igrejas, reconheço completamente.

Daniel Nora, 11º D

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