segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Comentário a “O Avarento” de Molière

Um velho avaro autoritário exerce constantemente um controlo opressivo e intolerante sobre os seus filhos e criados que, vivendo em aparente honestidade e temor ao avaro, são obrigados a encontrar subterfúgios para escaparem ao seu abuso e puderem perseguir os seus interesses. Este é o ponto de partida de “O Avarento” de Molière, uma obra-prima da comédia do séc. XVII adaptada e encenada com mestria no Teatro Carlos Alberto.
Para todos os esquemas há uma estratégia adversária, pelo que em “O Avarento” parece imediata a ânsia desesperada dos personagens em imporem a sua vontade e derrubarem o inimigo comum, o avaro malvado que só pensa na sua preciosa fortuna. A liberdade de todos parece estar pendente de uma aparentemente simples recusa às exigências do avaro (interpretado com muito humor e personalidade por Jorge Pinto). No entanto, este tem demasiado poder para que os que o circundam possam libertar-se facilmente do seu controlo ou não queiram assegurar uma parte para si próprios, nalguns casos. É um dilema cómico que se reflecte em diversas situações hilariantes de conspiração, falsos testemunhos e abundantes traições que por si próprias justificam a visualização desta excelente peça.
Os filhos do avaro querem ambos assegurar um casamento em consentimento do velho, submetendo-se a ele mas garantindo o seu suporte económico, que em qualquer caso é sempre muito escasso, embora (implicitamente) essencial. Os respectivos pretendentes, bem como os servos e criados, compactuam com essa submissão, sujeitando-se a situações muito degradantes para caírem nas boas graças do velho.
Ao longo de toda a peça há muitos sinais de revolta mas, até ao final, as verdadeiras intenções nunca são totalmente reveladas. Quando finalmente são, o avarento parece estar disposto a cortar todos os laços e a situação torna-se verdadeiramente caótica. É patético como a ganância e o autoritarismo de um se sobrepõem à vontade de todos os outros, mas na realidade todos os personagens dão algum contributo imoral para a escalada do enredo até à situação de (quase) ruptura.
Em suma, “O Avarento” de Molière é uma adaptação ao teatro da nossa própria vivência dramática, mas muito cómica (e actual) quando revista, na qual identificamos o desejo universal de sermos livres em confronto com a “prisão” que assegura a nossa própria existência, podendo servir de lição para alguns. Felizmente, no final, parece que todos os personagens estão em harmonia entre si, e o avarento também aprende a sua lição. Mas a crítica ao comportamento humano perdura.

Daniel José Marques Nora, Nº 2, 12º C

2 comentários:

Isinha disse...

quem é o avarento na peça ?

Isinha disse...

quem é o avarento na peça ?