sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

A Viagem

Estação de S. Bento

Igreja de S. Francisco

Nem tudo é um sonho. O passado é real e por vezes bastante actual. Assim, este oferece não só conselhos para um futuro melhor mas também uma imagem pitoresca e de fácil acesso da nossa pátria, a Língua Portuguesa. Satírica, à primeira vista, a nossa história é um verdadeiro conto moralista com conflitos, romances, mitos e lendas.
Neste dia de S. Martinho, solarengo como de costume, reinava, ainda, nas mentes adormecidas o frio da noite, quando o ‘metro’ parou na estação. Alunos e Professores embarcaram, à excepção de uns poucos Alunos. Eu era um deles. A nossa Professora tinha ficado connosco, preocupada com a dessincronização do grupo, mas rapidamente chegou mais um ‘metro’. Em típico estado de quarta-feira, os passageiros revelavam-se aborrecidos, questionando-se se iriam beber café ou meia-de-leite no trabalho; mas eu não; o dia de hoje não ia cair no vulgar. Ia ser um dia diferente, pois ia visitar a minha cidade berço, a cidade do Porto. À saída da estação, já do outro lado da ponte, um misto de sentidos invadiu-me: o cheiro nostálgico; o visual rústico embutido das suas personalidades típicas; o barulho de uma população que fervilha de vida e actividade; o vento que me despenteava, convidando-me a enlouquecer nesta invicta cidade. À minha frente, a Estação, que correspondia à sua localização, S. Bento. Aí descobri que tinha sido construída após a demolição do mosteiro da Ave-Maria, isto em finais do século XIX. Mas, já no século XX, o espaço vazio tinha sido preenchido, não por um edifício qualquer, mas de um que se eleva a excepção, pois construído à imagem da arquitectura Neoclássica, marca um passo na evolução do crescimento da minha cidade. No seu interior, belos azulejos complementavam o seu espírito com relevos e pinturas alusivas a momentos históricos de Portugal.
Esta visita não era pura coincidência, o estilo Barroco é caracterizado pela “aversão” ao Barroco, que por sua vez é característico da época do Padre António Vieira e das Igrejas que se visitaram de seguida. Deslocámo-nos a pé, absorvendo todos os detalhes que de outra forma se perderiam, se a visita fosse num outro meio de transporte, e chegámos à Igreja da Misericórdia. Estava em obras, mas notou-se o estilo Barroco (com elementos do rococó) da fachada. Infelizmente, a sua história não é muito brilhante, visto que foi destruída no século XVII por um relâmpago, e quase se transformou em ruínas; hoje, reconstruída, perdeu, contudo, o seu tamanho original.
Atravessando a Praça do Infante, chegou-se à Igreja de S. Francisco, onde se viu um excelente exemplo do Barroco português. As paredes interiores estavam recheadas de decorações e as suas sombras contrastavam com o reluzir da talha dourada (que totalizava 600kg em folha de ouro), característica do Barroco, que também contrasta com o seu exterior gótico. Remetendo-nos para o século XVIII, o seu interior é um dos melhores exemplos do seu estilo a nível mundial. Também se visitou a Casa de Despacho, onde havia um museu com peças valiosíssimas. Era apenas uma pequena sala, porque grande parte do seu tesouro foi roubado durante as Invasões Francesas.
O ‘passeio’ prosseguiu. Uma passagem pelo funicular seguia-se, e esta, apesar de breve, foi suficiente para deixar umas belíssimas imagens da Ribeira do Porto na memória. Seguia-se a Igreja de Santa Clara, onde o empobrecimento da ‘Igreja’ era mais evidente. Mármore falso e um salão de tamanho reduzido ambicionavam seduzir de novo os crentes que haviam sido atraídos pelo protestantismo. O facto de a Igreja ter perdido algum do seu poder nesta época torna-a mais radical e desesperada, criando, por exemplo, a Inquisição e o Índex, para controlar os sentimentos humanos. Foi nessa altura que surgem personalidades como António Vieira, da Igreja mas lutam pela liberdade de expressão e pela erradicação da desigualdade; lutam pela humanidade.
Esta Visita de Estudo provou ser uma visita não só espacial mas também temporal, exibindo uma nítida imagem do pensamento humano no período Barroco. É claro que a forma de pensar não se alterou desde então, e é destes momentos históricos que se podem tirar verdadeiras conclusões morais.

Gabriel António nº8 11ºE

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